O duplo homicídio ocorrido na noite da última quarta-feira (12) em um apartamento no Cruzeiro Novo foi gravado pela única testemunha ocular dos crimes. Em quase nove minutos de filmagem, a câmera do celular não capta imagens do momento dos crimes, mas é possível escutar toda a ação. A sensação de terror é crescente até chegar à barbárie, quando o sargento aposentado da Aeronáutica Juenil Bonfim de Queiroz, 56 anos, atira na cabeça de Francisco de Assis Pereira da Silva, 41, e contra a própria mulher, Francisca Naídde de Oliveira Queiroz, 58.
O vídeo foi captado pelo celular de Marcelo Soares Brito, 40 anos, namorado de Francisco. O crime ocorreu no Bloco G da Quadra 1405, próximo ao terminal rodoviário da cidade.
O sargento da Aeronáutica acusado de cometer duplo homicídio no Cruzeiro Novo debochou das vítimas após o crime. Depois de atirar e matar a esposa e Francisco, ele teria dito a Marcelo: “Tá vendo o que acontece com homem que mexe com mulher casada?”.
Um dia após o crime, o clima era de comoção e perplexidade no edifício onde ocorreram os assassinatos, o Bloco G da Quadra 1405 da região administrativa. Vizinhos e parentes tentavam entender por que o sargento decidiu abrir fogo contra Francisca e Francisco de Assis Pereira da Silva.
Abalada, a corretora de imóveis Marilene Macedo, 42, diz que a amiga Francisca era agredida constantemente por Juenil. “Ela já tinha pedido socorro. Nos encontramos no mercado e ela me contou que o casamento não estava indo bem, que o esposo estava agressivo. Ele é um homem obcecado e ciumento”, relata.
Conforme explicou Marilene, Francisca e Queiroz eram casados havia 32 anos e tiveram dois filhos. “Ela era uma mãe guerreira, que fazia crochê para pagar a faculdade da filha. Uma pessoa íntegra.” A mulher foi a 15ª vítima de feminicídio no DF em 2019.
Queiroz, por sua vez, teria sido pastor no ano de 2008, em uma igreja do Guará. A filha deles, segundo Marilene, mora no Nordeste e viria para o Distrito Federal após saber da tragédia que chocou a família.
Até a noite desta quinta-feira, não havia definição sobre o sepultamento das vítimas. Francisco é natural de Teresina (PI). Já Francisca, natural de Martins (RN), tem uma filha que mora em Recife (PE) e ainda não havia chegado a Brasília para resolver os trâmites burocráticos.
Terror
A prima de Marcelo, que não quis se identificar, presenciou os momentos de terror antes do crime. De acordo com o relato da mulher, Marcelo e Francisco estavam juntos há cerca de cinco anos. Nunca teria havido desentendimento entre o casal e o sargento acusado de feminicídio e homicídio, segundo a testemunha.
“Marcelo e Francisco vieram aqui para pegar um notebook, e ficamos conversando na parte debaixo do prédio. Nesse meio-tempo, o sargento chegou com a esposa. Ele estava muito nervoso e agitado. Subiu rapidamente, depois desceu armado e chamando o Francisco para subir.”
Insultando Francisco, o militar teria dito a ele: “Sobe agora, que eu vou te mostrar o que é um homem”. Diante das ameaças, Marcelo, Francisco e o sargento subiram juntos para o apartamento. “Nós chamamos a polícia nesse meio-tempo, mas não deu nem sete minutos e Marcelo desceu correndo, fugindo do sargento, que também correu atrás dele”, relata. “O Marcelo está péssimo. Ele viu o Francisco morrer de joelhos.”
Descontrole
Dentro do imóvel, Juenil teria discutido com Francisca e o suposto amante, determinando que ambos contassem sobre o relacionamento. Os dois negaram que tivessem qualquer envolvimento amoroso. O ex-militar relatou ter se descontrolado, ido até o quarto e pegado uma pistola calibre .380. Ele abriu fogo contra Francisco, atingido por pelo menos dois disparos, um deles na cabeça. Em seguida, o sargento atirou na mulher. Assustado, Marcelo correu e conseguiu escapar.
O ex-militar disse que, após atirar, desceu e ficou embaixo do bloco, aguardando a chegada da polícia. Juenil foi preso em flagrante e responderá por duplo homicídio qualificado por motivo torpe e impossibilidade de defesa da vítima.
Assista o vídeo:
Via: Metrópoles