Extra | Dez imigrantes venezuelanos pobres que fugiram da crise de seu país não foram longe ao cruzar para o Brasil: há três meses eles moram em um ônibus abandonado pouco depois da fronteira.
Eles dormem em cima de caixas de papelão, exceto por um sortudo que usa uma rede, e cozinham em uma fogueira ao lado da porta do ônibus Mercedes Benz de 1983 sem motor.
Duas crianças frequentam a escola local todas as manhãs.
Os imigrantes desamparados fazem trabalhos ocasionais por alguns trocados, enchendo os carros e picapes de venezuelanos que atravessam a fronteira para comprar alimentos e bens escassos em casa.
“Estamos morando neste ônibus há três meses”, disse Hildemaro Ortiz, de 24 anos, de Punta de Mata, no leste da Venezuela, que espera se mudar para uma cidade brasileira maior assim que seu filho cruzar a fronteira.
Ortiz e seus colegas de ônibus são parte de uma leva de venezuelanos que se espalham pelo resto da América Latina, muitas vezes motivados pela fome e desesperados para escapar de uma economia em queda livre na nação rica em petróleo, mas abalada pela carência de alimentos e blecautes.
Dezenas de milhares de imigrantes fugiram do caos político e econômico da Venezuela por Pacaraima, a única via de acesso ao Brasil, criando tensão na divisa. Cerca de 3,7 milhões de pessoas deixaram a Venezuela nos últimos anos, a maioria através de sua vizinha Colômbia, de acordo com o Banco Mundial.
Ixora Sanguino, de 27 anos, varre o chão do ônibus e dobra os cobertores.
“Nunca pensei que moraria em um ônibus, e menos ainda em outro país como este”, disse a mãe de três filhos, que teve que deixá-los em Ciudad Bolivar.
“Não existe nada na Venezuela neste momento”.
Quando cruzou a fronteira pela primeira vez, Ixora dormiu na rua. O ônibus é uma melhoria, já que a abriga da chuva tropical. Agora ela tenta juntar dinheiro suficiente para comprar uma passagem de ônibus para Boa Vista, a capital do Estado, para encontrar trabalho e enviar dinheiro à sua família esfomeada em casa.
Os ocupantes da estrutura de metal enferrujado sonham em voltar para sua terra natal um dia, quando a situação local melhorar, mas por ora a sobrevivência é uma luta diária.
“Se pelo menos este ônibus tivesse motor, estaríamos a caminho de Manaus a esta altura”, disse Ortiz.