“Me deparei com a Ana Paula comendo lixo aqui em frente ao salão. Aquilo me doeu tanto”. O forte relato é da educadora e cabeleireira Tatiana Van Campo, dona de um salão em Natal (RN). A história de Ana Paula, uma moradora de rua transexual de 40 anos, expulsa de casa aos 15, comoveu a proprietária do estabelecimento – e outras milhares de pessoas. Agora, ela tem um emprego à disposição e a possibilidade de largar as ruas.
Tatiana conta que se deparou com a cena nessa quarta-feira (29). “Falei para ela entrar, trouxe para cozinha, dei o que comer, perguntei como ela estava. Fiquei com o coração em pedaços, ainda estamos todos bem emocionados”, relata.
A transexual ganhou um dia de beleza no salão. “Ela deu um sorriso para gente que nunca vamos esquecer. O abraço que ela deu, as lágrimas que saíram… É como se ela tivesse sido gente pela primeira vez”, conta.
“A Ana Paula foi expulsa de casa com 15 anos, pela sua orientação sexual. Hoje, ela tem 40 anos e ainda vive na rua. Foi algo forte, de frente pra mim, para o meu estabelecimento. Não esperava tanta repercussão”, explica.
Emprego e vida nova
A empresária conta que não dormiu bem, pensando em um modo de ajudar de fato a moradora de rua. “Vou empregar a Ana Paula, ela merece uma chance. Quero que ela faça parte da nossa equipe. Estamos em reunião para ver como vou encaixá-la para fazer parte do nosso time”.
O salão Class das Loiras existe há sete anos, e é conhecido nacionalmente pelos cursos ministrados. De acordo com Tatiana, já são mais de 17 mil profissionais formadas ao longo desses anos.
“Vamos ministrar um curso profissionalizante para ela. Não somos ricos, mas para fazer o bem não precisamos ser milionários, precisamos só ter atitude e correr atrás. Me sinto uma pessoa muito melhor”, relata.
Após o tratamento de beleza, a empresária deu um dinheiro para Ana Paula. “Ela queria visitar a mãe, que mora em Ceará Mirim, há 86 km de Natal. Na segunda-feira ela deve voltar e vamos contar as novidades”, explica.
Jéssica Mendes também é transexual e é funcionária do salão desde 2014. “O que me surpreende mais é ver como você fazer o bem choca tantas pessoas. Deveria ser uma coisa rotineira. Eu me coloquei no lugar, ela me contou tudo o que passou, os abusos sofridos. O preconceito é muito grande, já senti na pele”.
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*Bhaz