Investigações têm detectado a participação de agentes da lei e de outros funcionários públicos do Amazonas no tráfico, seja diretamente ou indiretamente, por meio de encobrimentos ou extorsões.
O Coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Amazonas e promotor do Ministério Público, Igor Starling, destaca que grupos paramilitares, considerados pelos investigadores como “narcomilícias”, interceptam carregamentos de drogas de facções durante abordagens. O material é posteriormente comercializado ou devolvido mediante pagamento.
“Existem fortes indícios do envolvimento de agentes públicos com a atividade conhecida como ‘piratas de rio’, conforme o coordenador do Gaeco do Ministério Público do Amazonas, o promotor de Justiça Igor Starling, em declaração ao jornal O Globo, publicada nesta segunda-feira (04/02), na matéria intitulada ‘Facções e milícias disputam controle de rios da Amazônia para o tráfico de drogas’.
Conforme a reportagem, além das organizações criminosas com atuação nacional, as investigações têm identificado a participação de policiais e de outros servidores públicos do Amazonas no tráfico de drogas, seja diretamente ou indiretamente, por meio de encobrimento ou extorsão.
Em agosto do ano passado, o general Carlos Alberto Mansur foi exonerado do cargo de secretário de Segurança Pública do Amazonas após ser um dos alvos de uma operação do Gaeco que investiga crimes de corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro.
Segundo investigadores, membros da pasta aproveitavam informações privilegiadas para extorquir membros de facções envolvidas no tráfico do Amazonas.
De acordo com O Globo, membros das facções criminosas Comando Vermelho e PCC competem com milícias paramilitares pelo controle das principais rotas nos rios amazônicos para transporte de drogas e armas para outras regiões do Brasil e exterior.
Entre as rotas nos dez rios mais utilizados, a mais procurada é aquela que tem início no Rio Solimões, no Amazonas, e vai até Barcarena (PA), onde está localizado o principal porto brasileiro mais próximo dos Estados Unidos e da Europa. Em 2023, foram apreendidas 14,2 toneladas de entorpecentes em embarcações no Amazonas e mais 3,9 toneladas no Pará.
A fronteira do Amazonas com o Peru e a Colômbia — os dois maiores produtores de drogas no mundo — torna inevitável a passagem dos entorpecentes pelo estado, seja em barcos ou lanchas, inclusive blindadas e adaptadas para utilizar armas pesadas contra policiais.
Dentre as rotas nos dez rios mais utilizados, a mais buscada é a que tem início no Rio Solimões, no Amazonas, e vai até Barcarena (PA), onde se localiza o grande porto brasileiro mais próximo dos Estados Unidos e da Europa.
No Pará, duas semanas atrás, pescadores encontraram um submarino em São Caetano de Odivelas, no Nordeste do estado.
A Polícia Federal abriu inquérito para investigar o caso; o segundo no Pará. Há suspeitas de que a embarcação estava sendo utilizada para o tráfico de drogas.
O delegado da Polícia Civil do Amazonas, Bruno Fraga, afirma que a apreensão em rios é dificultada pelas condições geográficas.
“A logística de ações táticas nos rios é bastante complicada, pela extensão deles. Os traficantes fazem a maior parte do transporte de madrugada, e a visibilidade é quase zero”, destaca.
Quando descobertos, os traficantes podem reagir. Um vídeo gravado por policiais civis mostra agentes do Departamento de Repressão ao Crime Organizado (Draco) trocando tiros com traficantes na Operação Ultimato, em agosto de 2023.
Na ação, foram apreendidas cerca de duas toneladas de drogas, entre cocaína e maconha, sete fuzis calibre 556, coletes balísticos e uma lancha, no Rio Solimões.
Secretário preso
Em 2021, o então secretário executivo de Inteligência do governo do Amazonas, o delegado da Polícia Civil Samir Freire, foi preso sob a acusação de usar a estrutura da Secretaria Executiva Adjunta de Inteligência (Seai) para roubar ouro de garimpos clandestinos.
Em agosto do ano passado, o general Carlos Alberto Mansur foi exonerado do cargo de secretário de Segurança Pública do Amazonas após ser um dos alvos de uma operação do Gaeco que investiga crimes de corrupção ativa, peculato e lavagem de dinheiro. De acordo com investigadores, integrantes da pasta aproveitavam informações privilegiadas para extorquir membros de facções com atuação no tráfico do Amazonas.
Segundo as apurações, outra estratégia adotada pelos milicianos é a apresentação à polícia de uma quantidade de droga abaixo da que é de fato apreendida, com o restante do entorpecente sendo posto à venda.
Secretário de Segurança do Pará, Ualame Machado diz que o governo adotará uma estratégia com bases integradas com policiais civis, militares e bombeiros para vigiar os rios. A primeira delas, na região de Breves, foi inaugurada em 2022. Outras duas são esperadas.
Pesquisador da Universidade Federal do Amazonas, Fábio Candotti defende que as autoridades encontrem modelos sociais nos quais a droga, o garimpo e a pesca ilegal não sejam tão importantes.
— Além disso, investir recurso federal em uma segurança pública alvo de investigações por envolvimento com narcotráfico e garimpo é algo, no mínimo, muito pouco esperto — avalia.
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