O Brasil terá missão extremamente complicada domingo (23), às 16 horas (de Brasília), no duelo de oitavas de final da Copa do Mundo feminina. A atual edição do torneio acontece justamente na França, e a adversária deve ter a grande maioria de torcedores no estádio. E os franceses realmente abraçaram a seleção anfitriã.
No dia a dia, não há um “clima de Copa” generalizado pelas ruas das cidades-sede, mas a coisa muda de figura quando a França joga. As “Bleues”, como são chamadas as jogadoras da equipe, atraíram grande público aos estádios nas três partidas da fase de grupos: 45.261 em Paris contra a Coreia do Sul (com capacidade para 48 mil), 34.872 contra a Noruega em Nice (o limite era 35 mil), e 28.267 pessoas viram a vitória sobre a Nigéria em Rennes (de um total de 29 mil lugares disponíveis).
A rivalidade de Brasil x França no futebol masculino será transferida para o Mundial feminino e, a expectativa local é de que uma massa azul, vermelha e branca “invada” o Stade Océane no domingo. Para efeitos de comparação, os torcedores brasileiros já não foram maioria numérica ou sonora no jogo contra a seleção italiana; agora, isso deve se intensificar.
A seleção da casa conquistou a população francesa mais do que a Copa do Mundo em si. Há poucas propagandas relacionadas aos outros países participantes, mas é possível notar diversos cartazes com os rostos das atletas da França. O fato de que a TV aberta do país só exibe os jogos da seleção francesa também ajuda. Motorista de “Uber” em Lille, o francês Morad explicou sua relação com o Mundial ao fazer um comentário curioso durante conversa com a reportagem.
“Eu tenho visto os jogos da Copa do Mundo com a minha mulher. Acho o futebol feminino mais técnico, entende? O futebol dos homens é mais físico. Eu não gosto. E as mulheres simulam menos do que eles, se jogam menos. O Neymar é um exemplo disso”, disse o rapaz, que ficou empolgado ao descobrir que o local onde buscou esta repórter era o centro de treinamento da seleção brasileira em Lille.
O desgaste com Neymar, que tem sua saída do Paris Saint-Germain especulada pela imprensa, acaba se misturando ao carinho recém-desenvolvido pelo time feminino da França. Desde a abertura da Copa das mulheres, a equipe masculina do país disputou duas partidas de Eliminatórias da Euro e foi ofuscada – e o fato de que as rivais Turquia e Andorra eram pouco expressivas não ajudou.
Antes mesmo da definição deste confronto de oitavas, o francês Souhail já havia conversado com a reportagem sobre como se sentiria em um eventual duelo entre Brasil e França. Ele é fanático pelo futebol brasileiro, amigo de brasileiros e acredita que seu coração estará com os dois times.
Curiosamente, parte de sua paixão recente pelo Brasil começou graças a Neymar, que hoje é criticado e questionado por parte da França. “Ele me fez ter vontade de conhecer mais sobre o Brasil, sobre o lugar de onde ele veio. Mas agora é difícil tomar uma decisão sobre Brasil x França”, contou.
Ele não é o único que não sabe o que fazer. Horas antes do jogo contra a Itália, a reportagem encontrou Jean Christophe sentado em um bar próximo ao estádio de Valenciennes. Se não fosse pelo nome e pelo domínio do idioma local, poderia ser confundido com brasileiro. O francês estava vestido com camisa da seleção, bandeira do Brasil amarrada no pescoço (como uma capa) e um chapéu de palha.
Jean Christophe, que se identifica como “JC”, resumiu o que o faz feliz: uma cerveja, um cigarro, um café e uma vitória do Brasil no futebol. Despediu-se com um “obrigado”. Nem todos os franceses serão como ele.