Um intenso tiroteio na Favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro, deixou pelo menos 25 mortos, entre eles um policial, e dezenas de pessoas feridas. O agente André Frias, da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), morreu após ser baleado na cabeça. Levado ao Hospital Municipal Salgado Filho com quadro clínico considerado grave, ele não resistiu.
Outros dois policiais também foram atingidos de raspão no braço e panturrilha e têm quadros estáveis. Ao todo, 21 traficantes foram identificados e são procurados pela polícia local. Segundo a Polícia Civil, são 24 suspeitos mortos e o agente.
Em nota, a Polícia Civil informou que a ação, batizada de Operação Exceptis, é resultado de investigação contra a organização criminosa que atua na comunidade e coordenada pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA).
O grupo é investigado pelo aliciamento de crianças e adolescentes para integrar a facção que domina o território, explorando os menores para práticas como o tráfico de drogas, roubo de cargas, roubos a transeuntes, homicídios e sequestros de trens da Supervia, dentre outros crimes praticados na região.
O confronto interrompeu a circulação dos transportes públicos na região, além de ter provocado o fechamento de escolas e de unidades de saúde, suspendendo, entre outros serviços, a vacinação contra a Covid-19. O MetrôRio informou que os “dois clientes foram atingidos na altura da estação de Triagem, após o vidro de uma das composições aparentemente ser atingido por projétil”. Os passageiros feridos foram socorridos e também têm quadros estáveis.
Pânico
Moradores, assustados, pediram socorro em entrevistas ao Bom Dia Rio, entre eles uma noiva, com cerimônia agendada para às 9h desta quinta-feira (6/5), e um morador que tenta sair de casa com a esposa, grávida, para chegar ao hospital onde será realizado o parto. O telejornal exibiu ainda imagens de criminosos armados fugindo, saltando de telhado em telhado de diversas casas.
O Jacarezinho é dominado por uma das maiores facções criminosas e o território é considerado um dos mais importantes da quadrilha. São cerca de 200 policiais na ação, que conta com carros blindados da Polícia Civil e helicóptero. A ação conta ainda com apoio de outras unidades do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE), do Departamento Geral de Polícia da Capital (DGPC) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE).
O tiroteio interrompeu o tráfego entre as estações Maria da Graça e Triagem. Por volta das 7h15, os trens voltaram a circular.
Guerra e terrorismo
A nota da Polícia Civil também classifica a situação da região como guerra e terrorismo, além de informar que os criminosos alvo da ação foram identificados após a quebra de sigilos telefônicos e de dados autorizados pela Justiça.
A partir daí, “foi possível caracterizar a associação dessas pessoas com a organização criminosa que domina a região, onde foi montada uma estrutura típica de guerra provida de centenas de ‘soldados’ munidos com fuzis, pistolas, granadas, coletes balísticos, roupas camufladas e todo tipo de acessórios militares”, diz o texto.
Em razão da dificuldade de se operar no terreno, por conta das barricadas e das táticas de guerrilha usadas pelos bandidos, o local é um dos escolhidos pela quadrilha para abrigar quantidade relevante de armamentos, que seriam utilizados nas retomadas de territórios perdidos para facções rivais ou para reforçar a própria base contra possíveis investidas policiais.
“Além do uso das mencionadas práticas típicas de guerra, em dezembro de 2020 e abril de 2021, os criminosos do Jacarezinho sequestraram trens da Supervia, demonstrando que a sua forma de atuação se assemelha àquelas empregadas por grupos terroristas”, completa a nota.
Operações suspensas
Desde junho do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu operações em favelas durante a pandemia. A decisão permite ações apenas em “hipóteses absolutamente excepcionais”. Para isso, os agentes precisam comunicar ao Ministério Público sobre o motivo da operação.