A Polícia Civil e o Ministério Público do Rio coletaram indícios, durante a investigação dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, de que o sargento aposentado Ronnie Lessa, preso pelo crime, é traficante de armas. E-mails enviados pelo PM que fazem parte do inquérito revelam que ele comprava armas de vários países e fornecia, diversas vezes, como endereço para entrega, a casa onde morava e foi preso, no condomínio Vivendas da Barra, na Avenida Lúcio Costa, 3.100, Zona Oeste do Rio.
Em outras oportunidades, ele passava um endereço nos Estados Unidos, que usava quando viajava para o país. Segundo os investigadores, as armas, desmontadas, chegavam pelo correio.
Num dos endereços ligados a Lessa, alvo de um mandado de busca e apreensão, agentes da Divisão de Homicídios (DH) e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) encontraram 117 fuzis incompletos, do tipo M-16. O armamento estava escondido na casa de um amigo do policial militar no Méier, na Zona Norte do Rio. As armas, novas, estavam desmontadas em caixas em um guarda-roupas. Esta apreensão de fuzis é a maior da história do Rio.
O dono da casa, Alexandre Mota de Souza, afirmou para os policiais que Ronnie, seu amigo de infância, entregou as caixas, e pediu para guardá-las e não abrí-las. Alexandre, entretanto, foi preso sob a suspeita de tráfico de armas. A polícia chegou ao endereço após rastrear bens do policial que estariam em nome de Alexandre.
Lessa tinha mais de dez armas registradas em seu nome. Os agentes ainda tentam descobrir como ele comprou a metralhadora MP5 usada no crime. A polícia já sabe que ele fez buscas sobre a arma, que ficaram registradas em sua “nuvem” — o que permite o acesso remoto. Depois, pesquisou silenciadores que são usados nesse tipo de arma. Testemunhas do crime alegaram que o som dos disparos foi abafado por algum aparelho. As buscas sobre a arma pararam após a data dos assassinatos de Marielle e Anderson.
Ronnie foi preso enquanto tentatava fugir de casa, às 4h da manhã desta terça-feira. Na posse do sargento, os investigadores encontraram três celulares, todos em “modo avião”, sem acesso à rede de telefonia ou á internet.
Durante a operação, os investigadores também encontraram R$ 112 mil reais em espécie. Deste total, R$ 50 mil foram localizados na casa dos pais de Lessa e R$ 62 mil no próprio carro do PM.