O rio Negro pode atingir a cota máxima de 29,45m no Porto de Manaus em 2021. A previsão é do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM). Esse valor para o pico da cheia representa uma média. Considerando um intervalo de confiança de 90%, segundo o modelo utilizado, a previsão é que a cota máxima esteja dentro da faixa de 28,55m a 30,35m. Dentro desse intervalo, a probabilidade que o rio atinja a cota de inundação (27,50 m) é de 99% e a probabilidade que o rio atinja a cota de inundação severa (29,00 m) é de 80%.
A probabilidade de que esteja em curso uma cheia tão grande quanto a de 2012, ano da máxima histórica, existe, mas é de aproximadamente 17%. O prognóstico foi divulgado pelo SGB/CPRM, empresa ligada ao Ministério de Minas e Energia, na manhã desta quarta-feira (31), durante o tradicional Alerta de Cheias de Manaus, que acontece desde 1989.
A gravação da live está disponível no canal da TV CPRM Neste ano, o Alerta se estendeu para as cidades amazonenses de Manacapuru e Itacoatiara. A pesquisadora Luna Gripp, do SGB-CPRM, e o meteorologista Renato Senna, do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), explicaram como devem se comportar os rios nestes locais em virtude das chuvas registradas até março de 2021.
O retângulo amarelo no mapa é o que se espera do rio em Manaus entre os meses de junho e julho, com tendência a um evento extremo
Na cidade de Manacapuru, o nível do rio Solimões está acima do esperado para o atual período do ano, próximo ao observado em 2015, quando a cota máxima de toda a série histórica foi observada no município. Para Manacapuru, a previsão é que o rio atinja 20,27m em média, podendo variar entre 19,20 e 21,20 m, com 90% de confiança.
Em Itacoatiara, o rio está acima do nível normal desde fevereiro e deve atingir uma média de 14,90 m, com 90% de confiança de que fique no intervalo entre 14,30 m e 15,60 m. A cota de inundação no município, de 14,00m, tem 99% de chances de ser atingida neste ano, e a cota de inundação severa (14,20 m) tem a probabilidade de 97%. A cota máxima em Itacoatiara foi atingida em 2009, com 16,04m, evento que tem 10% de chances de ser igualado em 2021.
A metodologia de determinação de cada uma das cotas de referência citadas, assim como os pontos que as representam estão detalhados no Relatório de Definição de Cotas de Referência da Amazônia Ocidental, disponível neste link Durante a live, a pesquisadora Luna Gripp explicou que, em Manaus, o rio Negro tem um lento processo de subida e descida. Assim que atinge a cota máxima, o rio começa a descer e leva cerca de 126 dias para atingir a cota mínima, com base na série histórica. Com 94% de confiança, a cota máxima deve ser atingida entre junho e julho deste ano. O mesmo deve acontecer nos outros dois municípios contemplados pelo alerta. O nível do rio Negro vai depender da chuva que cai em toda a planícia amazônica; a viagem da água da cabeceira até a foz do rio leva um mês.
Segundo a pesquisadora Luna Gripp, os eventos estão cada vez mais extremos na Amazônia Ocidental, tanto em frequência quanto em magnitude. Seis das 10 maiores cheias de toda a série histórica de Manaus (com dados desde 1902) aconteceram recentemente, entre 2009 e 2020. Nesse contexto, o “Alerta de Cheias” é importante para minimizar os impactos à população, uma vez que no Amazonas as comunidades foram sendo desenvolvidas muito próximas aos rios, o que as torna muito vulneráveis. O Sistema de Alerta Hidrológico do Amazonas beneficia hoje cerca de 3,3 milhões de pessoas diretamente.
FENÔMENO LA NIÑA —Conforme o meteorologista Renato Senna, o final de 2020 teve um déficit de precipitação em grande parte da Bacia Amazônica Ocidental. No princípio de 2021 esse padrão se inverteu e já em fevereiro de 2021, as chuvas foram muito acima do esperado na bacia como um todo, causando inclusive transbordamentos no Acre.
O pesquisador do Sipam explica que os oceanos são atores determinantes nas chuvas e, no caso da região amazônica, essa influência se dá pelo Pacífico. Como está em curso o fenômeno La Niña, de resfriamento das águas, ele altera a formação de nuvens sobre o oceano e elas passam a se concentrar na Oceania. O resultado têm sido chuvas mais concentradas e em maior quantidade do que o normal na Amazônia, o que tende a se agravar. Em abril, maio e junho as chuvas devem diminuir em intensidade e ficar um pouco acima do normal no médio e baixo Negro, além do curso principal do rio Solimões.
“Segundo grande parte dos modelos de previsão, o fenômeno La Niña está se encerrando, fazendo com que o Pacífico tenda a se aquecer. Ao final do trimestre, a bacia do rio Branco pode chegar a condição de déficit já que a estimativa é de que as chuvas não sejam suficientes”, destacou Senna.