Povos indígenas do Vale do Javari, região conhecida por ter a maior concentração de povos isolados no mundo, localizada entre os municípios de Atalaia do Norte e Guajará – Oeste do Amazonas, não estão satisfeitos com a possível nomeação do pastor Ricardo Lopes Dias para assumir a Coordenadoria Geral de Índios Isolados e Recém Contatados (CGIIRC) da Fundação Nacional do Índio (Funai). Em nota divulgada à imprensa nesta sexta-feira (31), a coordenação da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) afirma que “essa é mais uma atuação estúpida e irresponsável do atual presidente do órgão indigenista do Estado Brasileiro”.
No documento, o grupo em nome dos povos Marubo, Mayoruna (Matsés), Matis, Kanamary, Kulina (Pano), Korubo e Tsohom-Djapáe afirmam ainda que a Funai tem sido usada pelo Estado Brasileiro para beneficiar setores retrógrados, como o fundamentalismo evangélico e o agronegócio, em detrimento aos povos indígenas.
Em nota, os indígenas ressaltam que povos isolados são grupos que dependem única e exclusivamente da proteção de sua integridade física e territorial do Estado Brasileiro, e que a Funai é um órgão público criado para que detivesse toda a isenção institucional e imparcial para executar políticas públicas aos povos indígenas.
“As conquistas consolidadas por décadas na proteção aos índios isolados passam a estar ameaçadas, já que, na prática, quem vai executá-las são àqueles que já promoveram desgraças à vida e a sociedade de inúmeros povos indígenas na Amazônia”, diz trecho da publicação.
O possível novo titular da CGIIRC é um ex-missionário cristão, que atuou em uma tribo dos povos indígenas Matsés, também chamados Mayoruna. No documento, a Univaja ressalta ainda que atuação missionária nas aldeias tem sido nociva tanto quanto as doenças, pois causa a desorganização étnica, social e cultural dos povos indígenas.
“Pedimos as autoridades competentes que impeçam mais esse retrocesso, que dessa vez irá afetar de forma vital aos nossos parentes que optaram em viver plenamente autônomo no interior de nossas terras”, complementam.