O governo e o Ministério Público do Peru investigam a vacinação secreta de funcionários do alto escalão com “doses de cortesia” do laboratório chinês Sinopharm, em um escândalo que já causou a renúncia de dois ministros e que pode afetar as compras de imunizantes para combater a pandemia de Covid-19.
Os titulares das Relações Exteriores e da Saúde deixaram seus cargos, e o governo anunciou que vai demitir quem aplicou a vacina antes do início da imunização da população.
O novo ministro da saúde, Oscar Ugarte, disse à rádio local RPP na segunda-feira (15) que entre 15 e 20 autoridades receberam a vacina, de acordo com as primeiras investigações.
“Estou indignado e furioso com esta situação”, disse o presidente Francisco Sagasti na noite de domingo (14) em entrevista à América Televisión, após aceitar a renúncia de sua chanceler, Elizabeth Astete.
“Isso realmente põe em risco o enorme esforço que muitos peruanos que trabalham na primeira linha de defesa contra a Covid-19 têm feito.”
O jornal La Republica publicou um documento com 12 páginas em que aparecem nomes de 487 pessoas que teriam recebido a vacina da Sinopharm à margem dos ensaios clínicos.
A lista contém, entre outros, funcionários do Ministério da Saúde (e consultores), membros do Ministério de Relações Exteriores, reitores de universidades e outras autoridades do país.
De acordo com o jornal, chama atenção os nomes marcados como “convidados” e “pessoas próximas”, forma como foram classificados os que receberam doses do imunizante mesmo sem fazer parte do estudo.
Entenda o caso
O escândalo foi desencadeado após o ex-presidente Martín Vizcarra admitir, na quinta-feira (11), que recebeu a vacina experimental com sua esposa em outubro, quando ainda ocupava o cargo – eles não eram voluntário nos testes do imunizante.
Os ensaios clínicos da Sinopharm no Peru foram conduzidos entre setembro e o final do ano passado com cerca de 12.000 voluntários, mas os responsáveis ??locais pelo processo receberam doses adicionais para o número de participantes.
O lote extra fora dos testes foi de 3.200 doses de “vacina experimental ativa” – não de placebo – a serem administradas voluntariamente ao pessoal relacionado à pesquisa, disse a Universidade Cayetano Heredia em um comunicado.
Pelo menos 300 médicos que atuavam na linha de frente contra a pandemia morreram desde que o Peru registrou os primeiros casos do novo coronavírus, há quase um ano.