Logo no início da manhã, assim que as celas são abertas, o detento Paulo Vieira de Souza veste roupas para ginástica e segue até o portão, no início do corredor. Enche os pulmões e dispara em direção ao fundo da ala. Quando chega à parede ao final da galeria, gira o corpo e, com rapidez, volta no mesmo trote.
Conhecido como Paulo Preto, o engenheiro repete a série dezenas de vezes durante boa parte da manhã, no Complexo Médico Penal de Pinhais, no Paraná. Depois faz musculação, suspendendo com os braços garrafas pets cheias de água, usadas no presídio como pesos de academia.
Acusado de ser operador de caixa dois de campanhas do PSDB, o ex-diretor da Dersa, estatal paulista que cuida de obras viárias, vangloria-se do porte atlético, surpreendente para um senhor de 70 anos.
Sou “iron man” (homem de ferro), repete para os colegas de presídio, em referência ao fato de ser praticante de triátlon, modalidade que combina pedaladas, corrida e natação em grandes distâncias.
Paulo Preto foi preso três vezes na Lava Jato. Duas delas em um processo que corre em São Paulo no qual é acusado pela Procuradoria de beneficiar quatro empregadas com apartamentos e auxílios-mudança que deveriam ir para os reassentados pela obra viária do Rodoanel. Nenhuma delas morava no traçado.
Ele saiu da cadeia nas duas ocasiões graças a um habeas corpus do ministro Gilmar Mendes (STF). Ainda assim, acabou condenado em primeira instância a 145 anos de prisão.
A terceira prisão, em fevereiro, veio pela Lava Jato de Curitiba. Os procuradores acusaram o engenheiro de operar dinheiro ilícito com o setor de propinas da Odebrecht.
A juíza Gabriela Hardt, que até abril substituiu Sergio Moro à frente da Lava Jato, foi quem determinou a prisão.
Segundo um preso que convive com ele no Complexo Médico Penal, o engenheiro diz que não ficará muito tempo atrás das grades. Repete pelos corredores que seu “goleiro” o tiraria dali. Mas o ex-diretor da Dersa nunca revelou o nome verdadeiro do dono desse apelido.
Durante pouco mais de duas semanas, entre o final de março e o início de abril, Paulo Preto conviveu na prisão com o ex-governador do Paraná Beto Richa (PSDB). O político tucano foi preso sob suspeita de desvios de verbas da educação do estado.
Richa ocupou uma cela especial antes do portão da entrada da sexta galeria, onde ficavam os presos da Lava Jato. O espaço antes era um lugar de descanso para os carcereiros.
Após a prisão do ex-presidente Lula, o quarto foi reformado para abrigar o petista, caso a Justiça decidisse transferi-lo para um presídio estadual –desde abril do ano passado Lula cumpre em uma sala da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
Paulo Preto, assim que terminava seus exercícios matinais, seguia para a cela de Richa, onde ficava por horas. Os dois ficaram conhecidos na galeria como a turma do 45, referência ao número de campanha do PSDB.
Richa saiu da cadeia em 4 de abril. Paulo Preto buscou então novas alianças.
Em uma disputa velada contra o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB) pela liderança da ala, o engenheiro passou a conversar mais com outros presos.
Após a libertação de um advogado capturado em uma operação de combate à corrupção, Paulo Preto pediu para ficar com os pertences que o colega deixaria para trás. Não porque precisasse de algo. Mas porque doaria esse material para um novo detento, na tentativa de angariar sua simpatia.
Paulo Preto tinha percebido que Cunha fazia algo parecido, ao fornecer colchões a internos que chegavam na sexta galeria.
Há duas semanas, Paulo Preto e os presos da Lava Jato foram transferidos da sexta galeria para um espaço no Hospital Penitenciário, que fica dentro do Complexo Médico Penal e estava fechado aguardando reformas.
O Depen (Departamento Penitenciário do Paraná) justificou a troca de local dizendo que, nos quatro primeiros meses do ano, houve aumento de 3.635 presos no sistema paranaense e que novas vagas não foram criadas. Já a sexta galeria tinha espaço ocioso, com 35 presos e 96 vagas.
Foi criada, então, a sétima galeria, com celas coletivas para sete pessoas.
O hospital permanecerá fechado e lá agora estão os presos da Lava Jato e de outras operações policiais que miram crimes do colarinho branco.
Paulo Preto não terá mais que competir com Eduardo Cunha pelo protagonismo do lugar. O ex-deputado foi transferido na última sexta-feira (31) para um presídio do Rio, onde mora sua família.