O acordo entre Globo e Palmeiras, anunciado nesta quinta-feira (23) pelo clube alviverde, encerra o mais longo impasse entre um clube de futebol e a maior emissora do país desde o final do clube dos 13, em 2011.
Com a assinatura do novo contrato, a Globo passa a ter os direitos de mostrar os jogos da equipe paulista em TV aberta e pay-per-view.
O fim das divergências acontece a tempo de a partida entre Palmeiras e Botafogo, sábado (25), no Allianz Parque, ser transmitida. Até então, ela estava na lista de apagões do Campeonato Brasileiro. Não seriam transmitidos por nenhuma emissora.
Segundo a Lei Pelé, as transmissões de futebol devem ter a anuência das duas equipes envolvidas.
As negociações entre Palmeiras e Globo avançaram a partir do momento em que o canal aceitou discutir os pontos do contrato contestados pelo clube. O Palmeiras não aceitava o redutor no contrato de TV aberta e a fórmula de remuneração do pay-per-view.
O time de Palestra Itália foi um dos sete que estão na Série A do Brasileiro a fecharem contrato com a Turner em TV fechada. Os outros foram Bahia, Athletico-PR, Ceará, Fortaleza, Internacional e Santos.
A Globo alegou que a decisão desses clubes de esnobar o SporTV prejudicava a capacidade da emissora de distribuir os jogos na tabela para diferentes plataformas de transmissão. Por causa disso, propôs um redutor de até 20% no valor de TV aberta a ser pago a quem fechou com a Turner. Palmeiras e Athletico-PR se rebelaram contra a proposta. A equipe paranaense enfim aceitou em abril. O Palmeiras, não.
Foi feita a mesma proposta do pay-per-view e o redutor chegava a 21%. Após o acordo com o Palmeiras, o Athletico-PR passa a ser o único sem contrato com a Globo para esta plataforma.
Os representantes do Palmeiras nas negociações rejeitaram, além do redutor, a maneira como o dinheiro seria dividido no pay-per-view. A Globo propôs que o valor a ser distribuído aos clubes seria o equivalente a 38% do que a empresa arrecadasse com a venda de pacotes.
Mas a partilha do dinheiro seria feita de acordo com os times preferidos pelos assinantes, em pesquisa a ser realizada em julho.
A argumentação do Palmeiras é que isso não seria parâmetro para medir o interesse do telespectador por uma partida específica e que os jogos do clube atrairiam também torcedores de outros times.
A Globo abriu mão dos redutores mas conseguiu não pagar para o Palmeiras o mesmo valor recebido por Flamengo e Corinthians no pay-per-view. O Alviverde vai ficar com R$ 65 milhões garantidos. Os outros dois clubes embolsam cerca de R$ 115 milhões.
O acordo terá duração até o final de 2021 e não 2024 como na proposta inicial. Vai cobrir apenas o atual mandato do presidente palmeirense Maurício Galiote.
Em parte, o Palmeiras entrou em conflito com a Globo por perceber que o dinheiro dos direitos de transmissão não faria grande diferença no orçamento do clube, ao contrário do que acontece com quase todos os clubes do Campeonato Brasileiro. A arrecadação no Allianz Parque em dias de jogos, o programa de sócios-torcedores e o patrocínio da Crefisa deixaram a equipe em uma situação confortável para brigar.
O Santos, por exemplo, foi convencido a assinar com a Globo por um adiantamento de R$ 8 milhões no começo do ano passado.
Mas os dirigentes palmeirenses também acreditaram em um argumento feito pelos executivos da Turner. Os clubes não sabiam aproveitar o poder que tinham em mãos nas conversas com a Globo.
Desde o final do Clube dos 13 (que a emissora ajudou a terminar), as negociações pelos direitos de transmissão deixaram de ser em bloco. Passaram a ser clube a clube. Com a popularização do pay-per-view, a Globo passou a ter a necessidade de ter todos os times do Campeonato Brasileiro com ela. Apenas um clube é capaz de comprometer todo o modelo de negócios da plataforma, que faz o marketing de que o assinante terá o direito de ver todos os jogos do Brasileiro.
Foi a arma usada pelo Palmeiras para conseguir um acordo melhor do que o oferecido inicialmente.