Os políticos franceses procuram consenso depois da aprovação no parlamento, numa primeira leitura, de uma lei que retira da matrícula escolar, dos registos das aulas, das autorizações parentais e de todos os formulários usados nas escolas as palavras “pai” e “mãe”. O objetivo inicial era substituir pelos termos “progenitor 1” e “progenitor 2”, a fim de evitar a discriminação a casais homossexuais.
Esta alteração foi, desde logo, apoiada por vários deputados do partido República em Marcha, presidido por Emmanuel Macron. A deputada Valérie Petit defende que a medida “visa enraizar na legislação a diversidade parental das crianças”. “Temos famílias que se vêem diante de caixas de seleção que estão presas em modelos sociais e familiares antiquados. Para nós, este artigo é uma medida de igualdade social”, diz ao jornal Libération.
Também o socialista Joaquim Pueyo afirma que esta é uma questão de “respeito e dignidade” e alerta para as “consequências de as crianças não se sentirem tratadas com as outras”.
O actual ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, não tece elogios à proposta, considerando que não é “absolutamente ideal”, já que “parece instalar uma hierarquia entre os dois pais”. “Devemos ter cuidado para não fazer, em nome de uma causa, coisas contraproducentes”, diz o ministro, citado pelo Libération. “Vamos trabalhar para chegar à fórmula certa”, garante.
Fabien Di Filippo, vice-secretário-geral do Partido Republicano, disse que a alteração se tratava de uma “ideologia assustadora”, segundo o jornal The Telegraph. “Em nome do igualitarismo sem limites, promove a remoção de pontos de referência, nomeadamente aqueles relacionados com a família”, acrescenta.
“Um pai, uma mãe! Parem com o delírio pseudo-progressivo”, escreve o eurodeputado Nicolas Bay, membro do partido de extrema-direita Frente Nacional, no Twitter.
Un père, une mère !
Stop aux délires pseudo-« progressistes » !#Parent1Parent2 https://t.co/iyVXkbjIJT— Nicolas Bay (@NicolasBay_) February 13, 2019
A nova versão da proposta vai voltar a ser examinada na assembleia francesa e a deputada e co-redactora do projecto Anne-Christine Lang apela, no Twitter, a que, “na segunda leitura da lei”, se consiga encontrar “uma solução para todas as famílias”.
A medida de retirar as designações “pai” e “mãe” faz parte do projecto Escola da Confiança, que se sustenta em três pilares: os valores fundamentais da república francesa, a ambição da excelência e a bondade. A alteração em causa foi discutida inicialmente pelo Governo francês em 2013, quando o país legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo.