Na última quinta-feira, Izaura Garcia de Carvalho Mendes, de 65 anos, foi à delegacia com duas advogadas e um suposto registro de sua obra na Biblioteca Nacional. Ela acusava Padre Marcelo Rossi de plágio e dizia que ele teria reproduzido um poema seu sem os devidos créditos no livro “Ágape”. O documento, porém, era falso, e, no lugar de indenização pretendida, as três tiveram a prisão decretada por esta e outras três infrações: formação de quadrilha, denunciação caluniosa e estelionato.
“O livro que ela afirma ter sido plagiado pelo padre não existe. É uma fraude”, resume o delegado Maurício Demétrio, titular da Delegacia de Combate à Pirataria no Rio.
Foi com este falso registro na Biblioteca Nacional que Izaura convenceu a editora de que era a autora do trecho e conseguiu o acordo de R$ 25 mil. Na Biblioteca, porém, não há nenhuma certidão do texto. As três respondem ao processo em liberdade.
“Eu fui à Biblioteca Nacional, estou com o laudo da BN. Ela não reconhece isso, ela não reconhece esse cabeçalho, essa formatação, e muito menos esse manuscrito. O que a senhora tem a dizer sobre isso?”, pergunta o delegado.
“Eu não tenho nada a dizer, porque foi o que me entregaram lá na época”, defende-se Izaura.
O coordenador do Escritório de Direitos Autorais da Biblioteca Nacional, órgão que teria emitido o registro, confirmou ao Fantástico que a cópia apresentada por Izaura é uma “falsificação grosseira” e que “foge muito ao padrão adotado” pela instituição. O delegado acrescentou que o registro de Izaura teria sido impresso em computador quando, à época, a Biblioteca emitia os documentos por meio de máquina de escrever.
Izaura responde a pelo menos cinco acusações de estelionato e teria registrado outras obras na Biblioteca. De acordo com a polícia, ela utilizava as mesmas informações de um dos registros para tentar falsificar outro, mudando o cabeçalho com corretivo.
No livro, o padre atribui o poema à Madre Teresa. O site oficial do Centro Madre Teresa de Calcutá, no entanto, afirma que este é um dos mais famosos textos falsamente atribuídos à religiosa. A suspeita dos investigadores é que Izaura registre textos como esse, de autoria desconhecida, para exigir direitos autorais. Em sua casa, o delegado encontrou até manuscritos falsificados.
“Papel falsamente envelhecido”, diz ele, ao analisar uma página.
Lançado em 2010, o livro é um fenômeno editorial e atingiu a marca de dez milhões de exemplares vendidos no mês passado. Depois disso, porém, o número de vendas estagnou. Isso porque Izaura conseguiu uma liminar que retirou a obra de circulação, após ter dado entrada, em 2018, a uma ação na justiça e uma queixa-crime contra o padre e a editora. Antes disso, ela já havia conseguido R$ 25 mil em um acordo extrajudicial. Após a liminar, porém, ela passou a exigir cerca de R$ 52 milhões de indenização.
As informações são do Fantástico.