Uma moradora de Chapecó, no Oeste catarinense, foi intimada e precisou prestar esclarecimentos em uma delegacia por suspeita de apologia ao crime. Segundo a Polícia Civil, ela teria publicado frases em uma rede social chamando de “ídolos” os criminosos envolvidos no assalto a um banco em Criciúma, no Sul do estado, no início do mês. Ela vai responder a um termo circunstanciado.
Um grupo com 30 assaltantes sitiou Criciúma por horas há pouco mais de uma semana. Houve reféns e um policial foi ferido em troca de tiros com suspeitos. Até a noite de terça-feira (8), ele seguia internado em uma unidade de terapia intensiva com uso de ventilação mecânica. Segundo a polícia, R$ 80 milhões foram roubados e pouco mais de R$ 1 milhão foi recuperado. Ao menos 12 suspeitos de envolvimento foram presos e as investigações continuam.
A polícia soube das frases na internet por denúncia anônima. “Na ocasião, a mulher publicou em seu perfil em redes sociais, horas depois do roubo, frases exaltando a ação dos criminosos, parabenizando-os e chamando-os de ‘ídolos’”, informou na terça (8) a Polícia Civil de Chapecó.
Em depoimento à polícia na segunda-feira (7), a suspeita de 30 anos disse que “‘não tinha intenção de enaltecer os criminosos”. Um termo circunstanciado por suposta prática de apologia ao crime foi instaurado e encaminhado ao judiciário, segundo o delegado regional de Chapecó, Ricardo Newton Casagrande.
Apesar de a livre manifestação ser garantida pela Constituição, conforme a delegacia regional, em casos que possa haver demonstrações que “excedam o direito individual e atinjam a coletividade”, a situação é apurada. A pena prevista quando esse crime é constatado é de três a seis meses de detenção ou multa.
“As pessoas devem ter cuidados com as publicações. Não confundir a liberdade de expressão, direito constitucionalmente previsto, com afirmações que podem configurar o delito de apologia ao crime. As vezes a linha é tênue e, se configurado o crime, pode gerar responsabilidade criminal ao cidadão”, orientou o delegado.
O inteiro teor da publicação, no entanto, não foi revelado pela polícia, nem a identidade da mulher, que não tem passagens policiais. Ainda conforme a polícia, as frases que teriam sido publicadas por ela foram apagadas.
O assalto
Conforme a Polícia Civil, cerca de 30 homens encapuzados atuaram no assalto ao cofre da tesouraria regional do Banco do Brasil, que fica anexa a uma agência bancária, no Centro de Criciúma. A ação teve início por volta das 23h50 e durou cerca de duas horas.
O ataque resultou em incêndios, ruas bloqueadas, dinheiro espalhado pelas ruas e reféns como escudos. Um policial militar que entrou em confronto com a quadrilha foi atingido por um tiro e segue internado.
Na lista do que as forças de segurança investigam, a PF apura um possível crime de lavagem do dinheiro roubado. A suspeita é de que a quadrilha tenha conexão com uma facção criminosa que já fez outros assaltos a bancos. Um dos presos é suspeito de planejar a fuga do chefe dessa facção.
O que se sabe do assalto:
- Cerca de 30 pessoas encapuzadas assaltaram uma agência do Banco do Brasil no Centro de Criciúma às 23h50 de segunda-feira (30). A ação durou 1 hora e 45 minutos.
- Pessoas foram feitas reféns e cercadas por criminosos; houve bloqueios e barreiras para conter a chegada da polícia.
- Um PM ficou ferido. O PM precisou passar por três cirurgias e segue internado.
- Criminosos fugiram, e parte do dinheiro ficou espalhada pelas ruas.
- Quatro moradores foram detidos após recolherem R$ 810 mil que ficaram jogados no chão devido à explosão durante o assalto.
- Criminosos também deixaram 30 quilos de explosivos para trás. Polícia não sabe o total utilizado.
- 10 carros usados no assalto foram apreendidos em um milharal de uma propriedade privada em Nova Veneza, a noroeste de Criciúma.
- A PM acredita, baseada em manchas de sangue encontradas nesses veículos, que pelo menos dois criminosos tenham se ferido.
- Em nota, o Banco do Brasil disse que funcionários não foram feridos e que não informa “valores subtraídos durante ataque às suas dependências”.
- As autoridades de Santa Catarina afirmam que este foi o maior assalto da história do estado.
*G1