O campo com um verde a perder de vista foi o lar de Guida nos últimos dois anos e oito meses. Morreu nesta segunda-feira (24) aos 47 anos a elefanta asiática que, com Maia, foram as primeiras moradoras do Santuário de Elefantes Brasil, o SEB, em Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso.
As causas da morte ainda serão investigadas. Um elefante é considerado idoso por volta dos 60 anos. Representantes do santuário apuram se os anos de maus-tratos podem ter interferido no resultado da morte na fase adulta.
Por quatro décadas, Guida e Maia viveram em cativeiro, no período de exploração no circo. O último local onde as duas viviam era um sítio em Paraguaçu (MG), onde viveram por seis anos acorrentadas. Elas haviam sido levadas ao lugar após uma fiscalização do Ibama retirá-las de um circo da Bahia.
O SEB é o primeiro lugar em toda a América Latina destinado à conservação desses animais. Ele está localizado em uma antiga fazenda de gado e possui 1.100 hectares, equivalente a sete parques Ibirapuera.
Na tarde de segunda-feira (24), segundo representantes do santuário, Guida teve dificuldades para caminhar enquanto fazia uma trilha pelo santuário e precisou de ajuda de veterinários. Cansada, ela se deitou. “Aplicamos soro intravenoso, a medicamos. Tiramos amostras de sangue com a esperança de que descansasse um pouco”, diz o comunicado. Durante a noite, a elefanta, de aproximadamente 47 anos, parou de respirar e morreu. “Ela se foi silenciosamente e em paz. Não esperávamos”, diz nota da entidade.
Um dos diretores do SEB, o biólogo Daniel Moura afirma que os impactos dos maus-tratos sofridos por décadas podem ter colaborado para a morte da elefanta. “A longo prazo, o corpo não aguenta. Ela viveu um período muito longo de exploração. Isso pode ter influenciado, porque é inevitável que afete a saúde física e psicológica do animal”.
Na manhã desta quarta (26), uma equipe de patologistas foi ao SEB para fazer a necropsia no corpo de Guida, para apurar as causas da morte do animal. Ainda não há prazo para o resultado do procedimento.
A morte de Guida provocou reação em Maia. Em silêncio, ela permaneceu ao lado do corpo de Guida durante a noite. Desde 2016, quando chegou ao último endereço, Guida passava o dia a andando pelo espaço verde. Para chegar ao SEB, Guida e Maia percorreram 1.600 km em contêineres. O transporte foi custeado por simpatizantes da causa animal do exterior e brasileiros – são as doações que mantêm o santuário ativo.
Na fazenda adaptada com área médica, tanques de água e setor de alimentação, as elefantas recebem cuidados diários e têm espaço de 29 hectares para percorrer -apenas as áreas adaptadas são permitidas aos animais, para que possam ter o acompanhamento adequado.
No primeiro ano, Guida, que chegou ao santuário abaixo do peso, ganhou 400 quilos. A elefanta também mudou o comportamento e deixou de ser um animal puramente sério. “Agora, ela é brincalhona e expressiva”, comemorava o diretor-técnico do santuário, Scott Blais, um ano após a vinda dos animais.
Em dezembro de 2018, as duas primeiras moradoras do SEB ganharam a companhia da elefanta Rana, que também atuou em circos na juventude e havia sido vítima de maus-tratos. As três elefantas de origem asiática logo se tornaram amigas.
Há outros animais, no Brasil e em países da América do Sul, previstos para chegar ao santuário. No entanto, segundo a coordenação do SEB, os trâmites burocráticos dificultam os procedimentos. Ao menos por ora, não há previsão da chegada de um novo elefante.