No Rio, um médico cirurgião é acusado de manter uma paciente em cárcere privado por mais de um mês no hospital, depois de complicações em um procedimento estético.
O médico acusado de esconder o que fazia dentro do hospital também não quis mostrar o rosto na hora de ser preso nesta segunda-feira (18) no começo da tarde. Os policiais prenderam o cirurgião plástico Bolivar Guerrero Silva dentro do centro cirúrgico do Hospital Particular Santa Branca, em Caxias, na Baixada Fluminense.
Bolívar é suspeito de manter a paciente em cárcere privado dentro da unidade de saúde por mais de um mês. Parentes contaram que a mulher de 35 anos está em estado grave por causa das complicações de um procedimento estético no abdômen feito por ele e que o médico impediu a transferência dela para outra unidade de saúde, mesmo depois de vários pedidos.
Na sexta-feira (15), os investigadores conseguiram falar por telefone com a paciente e disseram que ao atender, ela estava desesperada e pediu para ser retirada do hospital com medo de morrer. Os agentes entraram e viram que o estado de saúde dela era crítico.
Em seguida, a polícia pediu e a Justiça determinou a prisão temporária do médico e a suspensão do registro profissional dele no Conselho Regional de Medicina. A ordem judicial também determina a condução coercitiva de dois assistentes do médico, dois funcionários e do diretor clínico do Hospital Santa Branca.
“Ela tinha direito de acompanhante, mas não tinha direito a sair do hospital. O cárcere é quando é impedida sua liberdade de locomoção”, explica a delegada Fernanda Fernandes.
Bolivar Guerrero Silva é equatoriano e tem o diploma validado no Brasil. Ele trabalha em Caxias desde 1996 e é popular na internet, só em uma rede social soma quase 40 mil seguidores. O nome de Bolivar aparece em 19 processos, a maioria casos de pacientes que denunciaram erro médico.
Em 2010, Bolivar chegou a ser preso e indiciado por formação de quadrilha, crimes contra a relação de consumo e exercício ilegal da medicina. Ele era um dos donos do hospital, na época, e foi acusado de usar produtos falsificados e aplicar medicamento para preenchimento facial sem registro na Anvisa.
A vítima ainda está no hospital e espera para saber como vai ser cumprida a decisão liminar que determina a transferência. Falamos com ela por telefone:
“Ele falou que só me transferia se eu assinasse o termo de responsabilidade. Não tinha como ele me transferir para outro hospital, outro hospital não iria cuidar de mim do jeito que ele ia me cuidar”.
A paciente também respondeu se ela sentiu presa:
“Sim, sim. Meu sentimento é de apavoramento, de dor, de angústia, de querer ir embora, de querer sair daqui, de querer ter liberdade”.
O Jornal Nacional procurou a defesa de Bolívar Guerrero Silva, mas nossas ligações não foram atendidas.
O Hospital Santa Branca afirmou que as acusações de cárcere privado na unidade são infundadas e absurdas, disse ainda que repudia as práticas criminosas que foram atribuídas ao hospital.
O Conselho Regional de Medicina do Rio abriu sindicância para apurar o caso.