O homem apontado como líder do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Distrito Federal foi preso nesta sexta-feira (1º/3) pela Polícia Civil brasiliense. Morador de Uberlândia (MG), o criminoso, segundo a corporação, coordenava a facção de casa, dando ordens para que os integrantes cometessem crimes nas ruas do DF. Ele estava em sua residência na cidade mineira na hora em que foram cumpridos mandados de prisão, busca e apreensão.
A PCDF divulgou apenas as iniciais do preso: G.M.M.. De acordo com as investigações, ele é um dos bandidos “mais nocivos para a comunidade brasiliense”. Segundo a polícia, o preso também foi responsável pela instauração de um Tribunal do Crime para julgar um homem acusado de “trair” o PCC.
O “julgamento” ocorreu no passado. A vítima foi sequestrada e torturada por nove dias seguidos enquanto aguardava a “sentença” de morte que seria proferida pelas lideranças da organização criminosa. Porém, antes de receber a punição, o sequestrado conseguiu fugir do cativeiro que ficava no Entorno do DF.
A operação finalizada nesta sexta durou três dias e resultou na prisão de outros dois criminosos que já cumpriam pena no sistema prisional. As investigações apontam que G. e outro homem preso em São Paulo estavam planejando e determinando a execução de crimes de dentro de presídios, onde já cumpriam penas por delitos anteriores.
A investigação é da Divisão de Repressão às Facções Criminosas (Difac), da Coordenação Especial de Repressão à Corrupção, ao Crime Organizado e aos Crimes contra a Administração Pública e contra a Ordem Tributária (Cecor). A ação teve apoio do Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional (Nupri) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
Repressão
Após a transferência de lideranças da facção para o presídio federal de Brasília, em 13 de fevereiro, a Divisão de Repressão às Facções Criminosas realizou sete prisões de integrantes do PCC. O reforço nas investigações teve início em 2014, ano em que o grupo criminoso deu início a um projeto de expansão nacional e passou a tentar se radicar na capital federal, segundo a Polícia Civil.
Desde então, já foram deflagradas seis grandes operações policiais resultando na prisão de 270 integrantes da organização criminosa que atuavam na capital federal e em Goiás.
As últimas sete prisões foram efetuadas em Brasília, Goiás, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Os membros da facção presos no Distrito Federal foram capturados nas regiões administrativas de Samambaia e Ceilândia.
Organização
Segundo as investigações policiais, a história do PCC em Brasília começou em 5 de março de 2001, após o chefe máximo da organização desembarcar no DF. Depois de peregrinar por diversos presídios do país, Marcos Herbas Camacho, o Marcola, foi recolhido ao Centro de Internação e Reeducação (CIR). Apesar da estada ter sido curta – ficou preso até 8 de fevereiro de 2002 –, deixou marcas profundas tanto na mentalidade da massa carcerária quanto na segurança pública candanga.
No curto período em que esteve na Papuda, Marcola criou um braço do PCC chamado pelos criminosos de Partido Liberdade e Direito (PLD). Investigadores identificaram que a facção havia sido criada nos mesmo moldes da organização paulista, inclusive em relação às regras contidas em seu estatuto.
A facção definiu uma série de terminologias para facilitar a comunicação dentro da Papuda. As ordens da cúpula eram transmitidas de dentro dos presídios pelos “torres”, criminosos responsáveis pelo repasse de informações aos “pilotos”, presidiários escolhidos para coordenar os integrantes do PCC que estavam atrás das grades.
Os levantamentos feitos pela polícia mapearam que o organograma do PCC seria rígido e semelhante a uma estrutura militar, com níveis de comando hierarquizados, divididos em escalões de acordo com o poder exercido pelos membros e suas respectivas funções. A organização criminosa ainda construiu uma rede de colaboradores, formada por advogados, familiares, namoradas e visitantes.
Conduzidas pelo regimento da organização, essas pessoas são responsáveis pela articulação dos interesses dos detentos fora dos presídios, dando suporte jurídico, psicológico e, principalmente, financeiro, inclusive com o gerenciamento de contas bancárias alimentadas com dinheiro faturado em ações criminosas.
Sobre as contas bancárias ligadas ao PCC, as investigações apontam que apenas 20% delas estariam relacionadas a movimentações financeiras de alto valor, acima de R$ 100 mil. O restante seria feito por meio de pequenos depósitos.
Além das contas administradas pelos colaboradores da facção, grande parte dos recursos do PCC estaria ligada a empresas de fachada, como pequenas redes de supermercados, negócios imobiliários, restaurantes, agências de automóveis e até cooperativas de transporte de São Paulo.