Um levantamento feito pela Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas (FVS-AM), no período de 1º de janeiro a 18 de março de 2021, aponta a obesidade como principal comorbidade identificada em pessoas que desenvolvem formas graves da Covid-19 e evoluem para óbito, na faixa etária de 20 e 39 anos.
De acordo com o estudo, a obesidade foi verificada em 18,4% dos óbitos por Covid-19, na faixa etária de 20 a 29 anos. As cardiopatias apareceram em 8% dos óbitos; e a diabetes, em 6,9% das mortes confirmadas pelo novo coronavírus, entre 1º de janeiro a 18 de março.
Na faixa de 30 a 39 anos, a obesidade também é o fator de risco mais frequente, identificada em 15,8% das mortes por Covid-19. A diabetes está em segundo lugar (11,1%); e as cardiopatias em terceiro, aparecendo em 10,9% das mortes.
“Pacientes com obesidade possuem um tecido adiposo mais acentuado, e esse tecido é receptivo à infecção e à multiplicação do vírus. Então essas pessoas têm uma maior multiplicação e um tempo maior de permanência do vírus no seu organismo. Por conta desse tecido adiposo elevado, eles também têm um estado de inflamação já crônico. A carga viral nesses pacientes é muito maior”, detalhou o diretor-presidente da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD), Marcus Guerra.
O infectologista ressalta que a dinâmica respiratória é prejudicada em pacientes obesos. “Ele não tem tanta expansibilidade torácica nem diafragmática, então ele já tem um certo grau de dificuldade respiratória, mesmo sem a infecção. Com o processo infeccioso nas vias respiratórias, isso se acentua ainda mais. Há uma dificuldade, também, no manejo do paciente. O decúbito que é vantajoso para o paciente é mais difícil de ser executado em obesos, o benefício da ventilação é bem menor”, destacou Guerra.
Outras faixas etárias – Embora não seja o principal fator de risco, a obesidade também aparece com alto índice nas mortes por Covid-19 ocorridas na faixa etária de 40 a 49 anos, em 14,5% dos casos. É a terceira comorbidade dessa faixa etária, atrás da diabetes (18,5%) e das cardiopatias (17,6%).
A obesidade aparece, ainda, em quarto lugar quando observados os óbitos por Covid-19 na faixa etária de 50 a 59 anos, figurando em 9,2% dos casos. As três comorbidades mais recorrentes nessa faixa etária são diabetes (30%), cardiopatias (26%) e hipertensão (15,3%).
“Nós temos visto trabalhos que têm mostrado que pacientes obesos são mais hospitalizados, vão mais para as UTIs, precisam de ventilação mecânica, e um percentual expressivo dos óbitos tem sido visto em pacientes com obesidade. Obeso desenvolve hipertensão mais do que os não obesos, e insuficiência vascular e cardiovascular também”, acrescenta Marcus Guerra, ao alertar a população para o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis e para a prática de exercícios.
Novos hábitos – Aos 36 anos, o motorista de aplicativo Rômulo dos Santos teve Covid-19 em abril de 2020, quando estava com obesidade grau dois, de acordo com os parâmetros definidos pelo Índice de Massa Corpórea (IMC). Hipertenso e diabético, ele ficou internado durante uma semana no Hospital e Pronto-Socorro Platão Araújo, respirando com a ajuda de cateter nasal para administração do oxigênio.
“Quando entrei na Covid estava pesando 108 quilos, e quando saí, saí com 95 quilos. Hoje eu estou com 97, 98 quilos. Eu tive muita dificuldade, porque eu não fazia exercício, então agora eu procuro caminhar, me alimentar na hora certa, evito gorduras até por causa da minha doença, diabetes, hipertensão”, pontuou Rômulo, que chegou a ter 80% dos pulmões comprometidos pela doença.
Quase um ano depois, ele garante que mantém os novos hábitos e enfatiza que redobrou os cuidados por conta da variante P.1, em circulação no Amazonas.
“Me assusta muito, eu sou do grupo de risco. Eu saio para trabalhar, mas eu tenho a proteção, às vezes eu vou de luva, a gente pega em dinheiro, e toda hora higienizando a mão com álcool em gel, pedindo para o passageiro sempre sentar no banco de trás, com máscara. Não saio muito para fazer viagem sem necessidade, saio mesmo para tentar trazer o sustento para dentro de casa”, observou o motorista.
O diretor-presidente da FMT alerta: “Em qualquer variante ele está em risco. Mas, já que ele é um bom receptor da infecção viral, essa variante, que se multiplica mais e, portanto, é mais transmissível, porque você elimina uma carga viral maior, estará com maior risco ainda, e o percentual pode ser elevado em função da infecção por essa nova variante”, reforça Marcus Guerra.