Atentos à expansão do mercado de games no Brasil, jogadores profissionais e especialistas no game Fifa resolveram dar aulas para quem quer ter mais sucesso dentro do simulador de futebol. Segundo dados do 2º Senso da Indústria de Jogos Digitais, divulgado em 2018, 66 milhões de brasileiros têm acesso a algum tipo de jogo eletrônico.
Os profissionais cobram até R$ 300 por dicas. Eles oferecem como aulas particulares e venda de conteúdos, como vídeos e manuais.
Vinicius Leiva, 20, enxergou essa oportunidade há um ano e meio. Jogador profissional, ele ficou no Top 8 em seu primeiro campeonato internacional do Fifa, eWorld Cup 2017, em Los Angeles. Ele também participou das edições do torneio nas cidades de Amsterdã, Bucareste, Barcelona e Manchester. Com a experiência que acumulou, produz videoaulas.
“O serviço custa de R$ 80 a R$ 300. Uma aula avulsa custa R$ 80, com duração de uma hora. Também tem o pacote mensal, de R$ 300, com uma aula por semana, de uma hora cada”, diz Leiva à reportagem.
Com o trabalho, ele diz ter um faturamento de R$ 1.500 a R$ 2.000 por mês, que complementam sua renda como jogador profissional.
O método de Vinicius consiste em enfrentar os usuários o contratam algumas vezes para identificar pontos fortes e pontos fracos e, então, orientá-los sobre como corrigir os erros e potencializar características.
“Durante a aula, eu vou fazendo vários amistosos e, em cada jogo, vou trabalhando a parte do ataque e depois a defesa, separados. Depois, juntamos os dois”, explica o jogador. “No final, eu envio um documento com todas as dicas que eu passei para a pessoa memorizar e praticar.”
Allan Castello, 28, jogador profissional de FIFA, quatro vezes campeão carioca, vice-campeão da ESW 15 e vencedor da Manchester City Cup, tem um método semelhante ao de Vinicius. Ele cobra R$ 200 por aula e tem em média 13 alunos por mês, o que lhe dá uma renda média de R$ 2.600.
“Comecei a viver somente do jogo no Fifa 15. Antes, no Fifa 14 eu já tirava uma renda melhor do que no meu próprio trabalho, mas ainda tinha medo de largar a carteira assinada”, conta o profissional, que começou a dar aulas há quatro anos.
Allan faz parte de uma equipe chama MFT (Metralhas FIFA Team). Ele tem contrato com o time até junho, recebe salário mensal e bônus por classificações para eventos oficiais da EA (Electronic Arts, empresa desenvolvedora de jogos).
Matheus Overbeck, 21, começou a ganhar dinheiro com o jogo aos 16 anos, disputando torneios online. Hoje, vende videoaulas, que custam de R$ 10 a R$ 50 reais, e junto com um amigo gerencia um grupo fechado no Whatsapp. O acesso custa R$ 15 por mês. Nele, Matheus envia dicas para um modo específico do Fifa, o Ultimate Team.
Esse modo do jogo permite aos usuários criarem equipes virtuais com jogadores das principais ligas do mundo. Para montar um time, é preciso acumular moedas através das partidas, objetivos alcançados e, principalmente, com as transações no mercado de transferências.
“O mercado do Fifa é como o mercado de ações. Existem fatores externos que fazem as ações, nesse caso os jogadores, subirem ou descerem de preço. Nossa função é analisar esses fatores e prever essa movimentação para investir nos jogadores quando eles estão em baixa”, explica Matheus.
O grupo criado por ele tem 110 pessoas. Neste mês, o faturamento será de R$ 1.730.
A prática citada é o que os usuários chamam de “trade” (negociação, em inglês). Ao comprar uma carta por valor mais baixo do que ela vale e vender por seu valor real ou superior, eles acumulam moedas para comprar os jogadores desejados. Nomes como Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar chegam a custar milhões na moeda do jogo.
Em média, cada usuário recebe 400 moedas por partida jogada. Por isso, o mercado de transferência é o método mais rápido para acumular o valor necessário para formar um time forte.
Renato Figueiredo Jr, 25, começou a fazer trade justamente com a motivação de reforçar a sua equipe no Fifa.
“Eu era uma dessas pessoas que queriam ter um timaço, com Cristiano Ronaldo, Messi e grandes jogadores. Então, comecei a aprender [a fazer trade] acompanhando canais no Youtube”, diz.
Depois de oito anos jogando por lazer, Renato decidiu criar no ano passado o seu grupo no Whatsapp para enviar dicas de trade. O grupo que ele gerencia atualmente conta com 225 membros, que o faz ter um faturamento médio de R$ 2.000 -ele cobra uma mensalidade de R$ 10.
“O valor arrecadado varia muito. Tem gente que paga o serviço, tem gente que simplesmente não paga e tem pessoas no grupo que acabaram virando meus amigos e eu não cobro delas”, explica Renato, que já foi atendente de balcão, vendedor e mecânico antes de se dedicar ao trabalho de coach.
“Eu comecei a ganhar bem mais que meus pais e mais do que qualquer emprego que eu já tinha tido”, afirma.