O estudante Enzo Grechi ganhou notoriedade em julho do ano passado ao ser aprovado, aos 14 anos, no curso de automação industrial da Fatec (Faculdade de Tecnologia) de Tatuí, cidade a cerca de 140 km de São Paulo.
Desde então, vinha cursando o ensino superior, sem deixar de lado a escola, graças a uma liminar concedida pela Justiça que garantiu a sua matrícula -a Lei de Diretrizes e Bases da Educação estabelece que é preciso ter concluído o ensino médio para ingressar na universidade.
Após mais de seis meses de incertezas quanto ao futuro, saiu no dia 27 de março a decisão que o jovem e a família esperavam: a Justiça autorizou que a matrícula seja definitiva e o garoto continue os estudos.
O laudo de uma psicóloga atestando a maturidade de Enzo, considerado superdotado, foi determinante para a decisão.
Concluiu-se que a faculdade tem estimulado o potencial criativo do rapaz e que preenche “lacunas educacionais existentes no ensino regular para adolescentes com altas habilidades”. O estudante também passou por avaliação neuropsicológica e neuropediátrica.
“Estou muito feliz. Não achei que seria possível”, diz Enzo. “Acho que uma pessoa deve entrar na faculdade quando sentir que tem capacidade.”
Ele decidiu prestar vestibular apenas para testar as habilidades. Quando viu que havia sido aprovado em 14° lugar, animou-se para iniciar o curso.
A rotina do rapaz mudou bastante nos últimos meses. Fica na escola das 7h às 13h e na faculdade das 14h às 17h30. Apesar disso, diz que não se sente sobrecarregado e não tem tido dificuldades para aprender os conteúdos na faculdade. “Só preciso me esforçar para conciliar os dois”, diz.
A mãe do garoto, Fabiana Grechi, diz que nada foi imposto ao filho e que a prioridade sempre foi o bem-estar emocional dele. “Todo o processo foi orientado e acompanhado por profissionais especializados”, diz.
Enzo diz que pretende fazer outra graduação e um mestrado depois de concluir o curso de automação industrial. Está na dúvida se estuda biologia, biomedicina ou química. “Quero descobrir um jeito de melhorar a convivência em sociedade”, afirma.
O jovem foi o cliente mais novo da advogada Claudia Hakim, especializada em superdotação.
“Começar a faculdade antes da hora é uma decisão pessoal, não deve ser regra para todos os superdotados. O jovem tem que se mostrar motivado para estudar e ter maturidade”, diz. “Meus dois filhos [que têm habilidades especiais] tomaram essa decisão e foi a melhor coisa que fizeram. Foi muito natural e motivador.”
Segundo ela, é mais comum que os estudantes optem pela aceleração do ensino médio, em vez de conciliar faculdade e escola. “Ele pode até fazer um supletivo mais para a frente, mas, por enquanto, está bem”, diz.
Cerca de 16 mil estudantes têm superdotação em todo o país, segundo o Censo Escolar de 2016. O Ministério da Educação anunciou em 2017 que iria criar um cadastro nacional para alunos com habilidades especiais. O projeto, contudo, ainda não foi implementado.