Uma índia de 20 anos, agente de saúde indígena no interior do Amazonas, testou positivo para o novo coronavírus. A Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas confirma o caso. A jovem da etnia Kokama está entre os quatro contaminados no município de Santo Antônio do Içá, no Alto Rio Solimões. Com os casos confirmados, duas aldeias inteiras estão em isolamento.
De acordo com o Distrito Sanitário Especial Indígena que atua na região, a índia está em isolamento desde a última semana, quando surgiu a suspeita de contato com um infectado. Com a confirmação do caso dela e de duas outras pessoas no município, o Amazonas chega a 178 casos de Covid-19.
A jovem é a primeira indígena do Amazonas a contrair o novo vírus. O primeiro contaminado da região foi um médico que atua no Dsei da região. Ele teria entrado em contato com indígenas e outros profissionais da saúde nos últimos dias antes de testar positivo. Junto com ela, em casa, estão sete familiares que já tiveram material colhido para exames. Todos eles estão assintomáticos.
Com os quatro casos na cidade, duas aldeias inteiras foram colocada em isolamento. A primeira a entrar em quarentena foi a aldeia Lago Grande. A segunda é a São José, onde a indígena vive. Lá, moram cerca de mil índios, de acordo com o Dsei.
“Ela trabalha há dois anos com a gente. Esteve em contato com o primeiro contaminado. Temos o alívio de saber que há mais de uma semana ela está em isolamento, assim como várias pessoas. Tomamos esse cuidado com muita rapidez para assegurar a saúde desses povos. Hoje, temos mais de 900 profissionais morando dentro das aldeias. Todos dedicados a seguir e instruir para as medidas de prevenção”, comenta o diretor do Dsei do Alto Solimões, Weydsson Gossel.
Prevenção e atuação em aldeias
Atualmente, a área sob cuidados do Dsei do Alto Solimões tem cerca de 70 mil indígenas. São 237 aldeias distribuídas entre seis municípios. Eles recebem há pelo menos três semanas instruções e cuidados especiais no combate a Covid-19. O trabalho todo é feito por equipes técnicas do Dsei.
“Pedimos muito a todos: não façam aglomerações, não deixem estrangeiros entrarem, não saiam de suas aldeias. Nosso trabalho também leva em conta e respeita sempre a medicina deles. Fazemos trabalhos conjuntos com parteira, pajés e curandeiros. Todos entendem e ajudam. Já existe uma relação de confiança”, relatou o diretor.
A área que fica sob os cuidados da equipe conta com uma estrutura de 15 Unidades de Saúde dentro de aldeias espalhadas pela região do Alto Solimões. O momento de trabalho de combate ao coronavírus é feito intensamente na região há mais de três semanas.
O município de Santo Antônio do Içá também conseguiu acesso a 10 mil testes rápidos para o vírus, que devem ser entregues até a próxima semana. Ainda sem eles, o trabalho de coleta e resultados foi feito pela Fundação em Vigilância em Saúde (FVS-AM) na última semana. Os resultados saíram nesta terça-feira.
Contato com infectado
De toda a região, depois da confirmação do caso do médico, mais de 70 amostras foram coletadas em Santo Antônio do Içá. A maior parte delas entre indígenas Tikunas, moradores da aldeia Lago Grande. Lá, o médico contaminado passou uma manhã inteira atendendo a comunidade. Nenhum indígena Tikuna ou morador da aldeia está contaminado, afirma o Dsei.
“Com esses resultados da FVS, tivemos vários alívios. O primeiro foi ter a certeza que nossa comunidade da aldeia Lago Grande estava livre do vírus. Colhemos muitas amostras lá e todos voltaram negativos. Foi nossa primeira vitória. O segundo alívio foi saber que a indígena que testou positivo está em isolamento há muito tempo, antes mesmo dos testes. Agora vamos aguardar os novos resultados”, complementa o diretor Weydsson.
Além da índia e do médico, outras duas pessoas testaram positivo para o novo coronavírus em Santo Antônio do Içá. Eles não são indígenas e têm quadro estável.
*G1.