Na fonia interna do Hospital e Pronto-Socorro Delphina Aziz, um anúncio diferente mobiliza as equipes da unidade. É o “Código Ouro”, fluxo de informação que indica cada alta de Covid-19. O aviso às equipes trazia um significado diferente para o código: o hospital referência da doença no Amazonas superou 4.500 altas de pacientes que venceram o vírus, formando um grande corredor de profissionais de saúde.
A passagem com cerca de 50 metros envolveu mais de 150 enfermeiros, médicos e trabalhadores que atuam na unidade hospitalar do Governo do Amazonas. Pelo corredor de profissionais, passaram oito pacientes que receberam alta médica hoje e estavam internados na enfermaria de campanha, montada para dar suporte à demanda do hospital.
“Hoje é um marco praticamente histórico, que poucos hospitais no Brasil estão tendo ou tiveram. Essas pessoas estão saindo para os seus lares, junto das suas famílias, saindo com orientações pós-Covid para que eles sigam as suas vidas. A equipe fica muito grata com isso”, afirmou o coordenador da enfermaria de campanha, Tiago Souza.
Festa – A saída do grupo foi emocionante, embalada por um trio de médicos que se apresentaram cantando e tocando instrumentos musicais. Os pacientes passaram aplaudidos pelas equipes de saúde até a porta do hospital, onde encontraram seus familiares.
Uma das recuperadas foi a enfermeira Jomara Neves, 34. Coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI) do município de Manacapuru, ela foi acometida pela doença enquanto atuava na linha de frente do combate à Covid-19. Agora curada, ela afirmou que estar do outro lado é diferente.
“A minha função como enfermeira era estar à frente da vacinação, com riscos também, mais exposta. Uma fase onde ocorreu minha contaminação. Graças a Deus, pela graça de Deus a gente está aqui viva. É um susto, a gente é ser humano, tem medo. Mesmo sendo profissional a gente acha que é de ferro, mas a gente não é”, explicou.
Código Ouro – O ‘Código Ouro’ é um fluxo inspirado na ideia de um médico do corpo clínico do hospital. O projeto consiste em avisar, através do sistema de som da unidade, o momento exato de alguma alta médica. O sinal indica aos maqueiros que é a hora de se dirigir ao setor indicado para transportar o paciente em cadeira de rodas até a recepção.
Além disso, o médico Kenit Minori, um dos músicos do corredor do Delphina Aziz, considera o Código Ouro o momento de exaltar o valor de cada vida recuperada na unidade. “A gente está conseguindo devolver essa pessoa para a família. Toda pessoa é muito importante para alguém. Acho que seria um pouco isso”, diz ele.
Além da medicina, o profissional também dedicou o lado artístico tocando o próprio violão para registrar o momento da saída dos pacientes. Ele enfatiza que a medicina vai muito além de medicamentos e exames. “Vai também do sentimento, de outras formas que dá para abordar o paciente. Acredito que a música é uma dessas formas que a gente consegue trazer um pouco mais de amor, de empatia para o paciente e tocar ele de uma forma que às vezes o remédio não consegue tocar”.
Emocionada, Luciene Dias, de 47 anos, comemorou a saída do hospital em grande estilo. Surpresa com a cerimônia preparada pela unidade de saúde, ela agradeceu o empenho de todos os profissionais. “Estou muito feliz de poder voltar para minha casa com vida. Fui muito bem tratada. A gente pensa que não vai sair, dorme pensando que não vai acordar, mas eu venci”, disse.