A Venezuela voltou a ficar paralisada nesta terça-feira (26/3) após um novo apagão nacional que começou na segunda-feira (25) e dura quase 12 horas, o que levou o governo chavista a suspender as aulas e o dia de trabalho por 24 horas (até a quarta-feira).
Quando o país ainda se recuperava da maior falha no sistema de energia elétrico de sua história, ocorrida em 7 de março e com duração de quase uma semana, diversos estados voltaram a ficar às escuras e paralisados. As ruas ficaram vazias e os estabelecimentos comerciais foram fechados em Caracas e nas principais cidades do país.
O apagão teve início na segunda-feira às 13h22 (14h22 de Brasília) e provocou o colapso do fornecimento de água, das redes de telefonia e internet, assim como dos bancos eletrônicos, um sistema vital ante a falta de cédulas de dinheiro provocada pela hiperinflação e a desvalorização da moeda nacional.
O governo “decidiu a suspensão por 24 horas das atividades trabalhistas e educativas em todo o país”, anunciou o ministro da Comunicação, Jorge Rodríguez.
Além da capital, o corte de energia elétrica afeta 21 dos 23 estados, de acordo com usuários das redes sociais. O governo de Nicolás Maduro não divulga informações sobre o impacto deste tipo de emergência.
Na segunda-feira à tarde, o serviço foi restabelecido em Caracas e outras localidades centrais por apenas algumas horas, antes de uma nova falta de luz. Os moradores de vários estados expressaram sua irritação e frustração. Outros ironizavam a versão do governo sobre um novo ataque aos sistemas de geração e transmissão.
Os apagões são frequentes no país com as maiores reservas de petróleo do mundo e o governo sistematicamente atribui o problemas a atos de sabotagem da oposição.
Rodríguez afirmou na segunda-feira que o corte foi provocado mais uma vez por um “ataque” contra a central hidrelétrica de Guri (no estado de Bolívar, sul do país), responsável por 80% da energia consumida no país de 30 milhões de habitantes. “Vamos derrotar esta guerra elétrica com a força imensa que, como povo, acumulamos em nossa luta contra impérios grosseiros e seus lacaios locais”, reforçou o ministro nesta terça-feira.
Mas o líder opositor e presidente do Parlamento, Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino do país por mais de 50 países, afirmou que o corte foi provocado por uma “sobrecarga no sistema de subestações”.
“Como pretendem seguir repetindo as desculpas da ‘guerra eléctrica’ e sabotagem? São mentirosos e corruptos”, denunciou no Twitter o opositor, que se proclamou presidente no dia 23 de janeiro, depois que o Legislativo declarou Maduro “usurpador”, por considerar que sua reeleição aconteceu de maneira fraudulenta.
En medio de la angustia de la oscuridad, cuando nuestra gente necesita certeza en medio de la angustia de otro apagón, ¿cómo pretenden seguir repitiendo las excusas de la "guerra eléctrica" y el sabotaje?
Son mentirosos y corruptos
(1/3) #ApagonRojo— Juan Guaidó (@jguaido) March 26, 2019
Segundo relatórios internos do Exército venezuelano, obtidos por sites locais, a falha elétrica teve origem na represa de Guri. Os documentos descrevem falhas e explosões de interruptores, choques e cargas afetadas.
“É difícil, tudo para de funcionar. Nos dias de apagão não se faz nada, não há internet, não há acesso ao dinheiro”, afirmou Yendresca Muñoz, analista de um banco, de 34 anos.
Perdas
O apagão representa um novo golpe para uma economia em colapso. De acordo com estimativas da oposição e de sindicatos, a paralisação do início de março provocou prejuízos de quase um US$ 1 bilhão.
O corte de energia elétrica de uma semana afetou com força os hospitais, já penalizados pela falta de insumos e medicamentos. ONGs afirmaram que pelo menos 10 pacientes morreram em consequência do apagão.
Após a crise, Maduro anunciou uma reestruturação do gabinete e prometeu uma “transformação profunda” das empresas do setor, além de blindar a infraestrutura com as Forças Armadas. Mais de uma semana depois não aconteceram mudanças no ministério.