Desde o último sábado, os moradores das regiões Sul e Sudeste do Brasil têm presenciado um fenômeno climático que escancara a conexão entre catástrofes ambientais e condições meteorológicas, mesmo em locais distantes das origens dos eventos. A fumaça proveniente das queimadas na Amazônia já se espalhou por ao menos dez estados do país, afetando severamente cidades do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Esse cenário alarmante ressalta a gravidade das queimadas na floresta tropical e sua influência direta em outras partes do Brasil.
De acordo com o Serviço de Monitoramento Atmosférico da Europa, a neblina carregada de fuligem alcançou também os estados do Rio de Janeiro e São Paulo durante o final de semana. Esse fenômeno, que foi potencializado pela atual onda de calor, tem a possibilidade de se repetir até a próxima sexta-feira. No entanto, uma frente fria que se aproxima do Sudeste promete dissipar parte dessa fumaça, aliviando temporariamente os efeitos nocivos da poluição.
A fumaça que se alastra pelo país é transportada por um corredor de ar que vem do Norte, trazendo consigo as partículas resultantes das queimadas em dois importantes biomas brasileiros: a Amazônia e o Pantanal. Entretanto, nesta semana, a maior parte dos focos de incêndio está concentrada na Floresta Amazônica, especialmente ao longo das rodovias BR-230, em Apuí (AM), e BR-163, que corta municípios como Itaituba (PA) e Novo Progresso (PA), além da região de Porto Velho (RO). O Pantanal, por sua vez, também enfrenta um cenário preocupante, mas os focos de incêndio ali são menos fragmentados, ocorrendo principalmente nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Atualmente, há mais de 200 eventos de fogo registrados ao longo da BR-163 e um número semelhante na BR-230, além de outros focos na região de Porto Velho. A intensidade desses incêndios, especialmente na Amazônia, tem gerado preocupação entre especialistas e autoridades, que apontam para a extrema gravidade da situação. Henrique Bernini, pesquisador de sensoriamento remoto, destaca que a presença da fumaça amazônica em regiões tão distantes é um indicativo claro das condições ambientais críticas na floresta. “Para ter fumaça da Amazônia aqui é porque a condição lá já é extrema”, afirma Bernini.
Os impactos dessa fumaça vão além da visibilidade reduzida e da atmosfera nebulosa. A poluição do ar é uma ameaça direta à saúde pública, podendo agravar doenças respiratórias, cardiovasculares e até aumentar a mortalidade em grupos vulneráveis, como crianças e idosos. Além disso, a fuligem contribui para o aumento das emissões de gases de efeito estufa, intensificando o aquecimento global e criando um ciclo vicioso de degradação ambiental e crises climáticas.
A situação na Amazônia reflete uma combinação de fatores, incluindo desmatamento desenfreado, políticas ambientais frágeis e a falta de fiscalização eficaz. A temporada de seca, que já é naturalmente propícia para a propagação do fogo, tem se tornado ainda mais devastadora devido à intervenção humana, seja por meio de queimadas ilegais para a abertura de pastagens ou pela expansão agrícola sem controle adequado.
*Com informações de O Globo
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