O filme “Boy Erased” estava previsto para estrear nos cinemas brasileiros entre janeiro e fevereiro. Mas sua distribuidora, a Universal, decidiu lançar o longa direto em home vídeo no Brasil, causando revolta na internet.
Como a obra conta a história de um jovem que passou por programa de “cura gay”, muitos começaram a chamar o ato de censura e um reflexo da onda conservadora no país.
A Universal, entretanto, negou que o conteúdo da história tenha pesado na decisão.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a empresa disse que não lançará a obra “nos cinemas única e exclusivamente por uma questão comercial baseada no custo de campanha de lançamento versus estimativa de bilheteria”.
Cita outro caso de filme elogiado no exterior e que não será exibido nas telas nacionais: “ Bem-vindos a Marwen”.
“Boy Erased”, dirigido por Joel Edgerton, é inspirado no livro de memórias escrito pelo americano Garrard Conley.
Aos 19 anos, o escritor, que é filho de um pastor batista, foi mandado para um centro de inspiração religiosa que se propõe a “converter” homossexuais. Hoje, ele milita contra esses tipos de terapias.
Em entrevista à Folha de S.Paulo, no fim de janeiro, Conley contou detalhes de como foi obrigado a limar comportamentos efeminados e evitar contato físico com outros homens.
“Só recentemente fui me dar conta de que era um culto. Hoje parece óbvio, mas para quem foi criado naquele tipo de ambiente, a percepção é um choque”, disse ele, que nasceu no sul dos Estados Unidos, na região chamada de Cinturão da Bíblia devido ao grande número de famílias protestantes fervorosas.
Indicado ao Globo de Ouro pelo papel, Lucas Hedges é quem interpreta o protagonista no filme de Edgerton. Russel Crowe e Nicole Kidman fazem os seus pais na trama.
Assim que foi anunciada a decisão da Universal de cancelar o lançamento do filme nos cinemas brasileiros, Conley postou em suas redes sociais que se tratava de um ato de “censura”. “Senti que estava por vir e é muito triste que esse tipo de coisa aconteça em um país tão bonito”, escreveu.
O ator Kevin McHale, famoso pela série “Glee”, também foi outro que se manifestou nas redes sociais e fez associações com o atual momento político do país. “Bolsonaro é uma ameaça à comunidade LGBTQ+ brasileira. Censurar um filme sobre os perigos da terapia de conversão é só o começo”.
A distribuidora, porém, afirma que desde que o trailer foi divulgado, no ano passado, já discutia internamente se valia a pena lançar o longa no Brasil, mas por uma questão de mercado, e não temática.
“Com um filme pequeno, muitas vezes se gasta mais para colocá-lo nos cinemas, por causa da campanha, do que o filme consegue arrecadar nas bilheterias”, informou, por meio da assessoria.
Nos Estados Unidos, “Boy Erased” foi lançado em novembro e ocupou 672 salas —número modesto para os padrões do país e menos de um quarto do que “Bohemian Rhapsody”, por exemplo. Seu faturamento nas bilheterias também não foi muito grande: pouco menos de US$ 8 milhões, relativamente baixo.
A estratégia do estúdio era aproveitar o burburinho da temporada de premiações, já que o longa era muito cotado.
No Globo de Ouro, o filme emplacou duas indicações: melhor ator de drama, para Hedges, e melhor canção. Não levou nenhum prêmio. Ficou fora também do Oscar.
No começo da noite, o próprio Garrard Conley foi as redes sociais dizer que “aparentemente houve grande dose de confusão” ao cravar que teria havido censura. “Só não deixemos que isso nos distraia da situação que pessoas LGBTQ enfrenta.