Todos os anos, quase 11 mil pessoas descobrem ter leucemia no Brasil, segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca). No Amazonas, foram 152 novos casos em 2019. Atualmente, pouco mais de 300 pacientes adultos e infantis com leucemia fazem tratamento na Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia (Hemoam) é referência no tratamento da leucemia e de outras doenças do sangue no estado.
Ainda que não represente hoje um perigo tão sério como no passado, não há ainda forma de prevenir a leucemia, e uma das melhores formas de combatê-la é ficar atento a sinais ou sintomas, de forma a detectar a doença o mais cedo possível. É o que assinala a diretora-presidente do Hemoam, Socorro Sampaio, que também atende no ambulatório como médica hematologista pediátrica.
“A leucemia não têm prevenção. O melhor para os pacientes é ter o diagnóstico precoce. Com isso, o tratamento vai ser feito de forma mais adequada, com menos medicações, menos complicações, e assim as chances de cura são maiores”, explica a especialista.
Arthemiza é uma das pacientes atualmente em tratamento no Hemoam. Com 8 anos de idade, a menina está tratando de uma Leucemia Linfoide Aguda (LLA), tipo mais comum em crianças de 0 a 11 anos.
“Eu descobri minha doença quando a dor estava andando no meu corpo e nas minhas costas, tudinho. Sentia dor nas minhas batatas da perna (panturrilhas) e nas minhas cadeiras (quadril)”, relata a jovem paciente, que confia no bom resultado do tratamento, iniciado logo após a detecção. “Eu comecei a me cuidar rapidinho, e por isso acredito que vou ficar boa logo”.
Graças aos avanços medicinais, embora assustador, o diagnóstico de leucemia já não pesa como uma sentença. Hoje, com a Rede de Atenção Oncológica e um tratamento que envolve combinações de quimioterápicos mais eficientes, já é possível chegar a uma taxa de cura acima de 70%.
Flávia está na estatística daqueles que conseguiram a cura. A estudante de Enfermagem de 22 anos descobriu a leucemia quando tinha 8 anos. O tratamento dela durou dois anos e meio. Ao completar dez anos sem sinais da doença, Flávia recebeu alta definitiva, e não precisa mais comparecer ao Hemoam para exames de rotina.
“Eu recebi alta no Dia do Professor em 2015. E meu pai é professor. Então foi muita felicidade, porque meus pais abdicaram de muita coisa para cuidar de mim”, recorda.
A única razão para que Flávia continue indo ao Hemoam é que recentemente ela se tornou estagiária do setor de Transfusão da instituição. Por um desejo pessoal, ela lida diariamente com pacientes com a mesma doença que ela teve. “Eu tento mostrar para eles que têm que acreditar. Não desistir. Acredito que poder falar que eu me curei é uma alegria enorme”.
Som que marca a cura – No próximo mês, a estudante deve se juntar à lista dos ex-pacientes que tocam o sino da cura. O instrumento sonoro, inaugurado em agosto do ano passado, simboliza o fim do tratamento, e para muitos é o anúncio da cura definitiva.
Flávia será a primeira paciente de 2020. Em 2019, pelo menos três pacientes receberam alta definitiva e já podem ser considerados curados do câncer.
Kaio Paes Barreto, de 15 anos, foi um desses pacientes. O estudante tocou o sino e recebeu a alta definitiva. Já são mais de dez anos sem sintomas da doença, e Kaio já faz planos para o futuro.
“Eu estou estudando muito para ser médico, porque quero retribuir esse mesmo bom tratamento que recebi dos meus médicos, e especialmente da minha médica, Dra. Socorro Sampaio, para os outros pacientes no futuro”.
Atenção aos sinais – Alguns sintomas da leucemia são: palidez, manchas roxas, febre constante, dor na perna, caroços e inchaços indolores, perda de peso inexplicável, aumento da barriga, dor de cabeça, sonolência e vômitos.
Diagnóstico – Ainda não há evidências científicas que deixem claro o que desencadeia a leucemia. Por isso, o diagnóstico precoce é a recomendação atual. Quando identificado e tratado logo no início, as chances de cura do mal podem passar de 80%.
Diante da suspeita, o primeiro exame realizado deverá ser o exame de sangue. O hemograma completo é feito para determinar as taxas de células sanguíneas. A maioria das crianças com leucemia tem aumento de glóbulos brancos e poucos glóbulos vermelhos e/ou plaquetas.
Em caso positivo, o hemograma mostrará (na maioria das vezes) o aumento do número de glóbulos brancos, associado ou não com a diminuição dos glóbulos vermelhos e plaquetas. O paciente deverá passar por avaliação de um hematologista, médico especialista em doenças do sangue.
A confirmação do diagnóstico poderá ser feita através do exame da medula óssea, chamado de mielograma. Nesse exame, retira-se uma pequena quantidade de sangue que fica em uma parte esponjosa de dentro do osso. Algumas vezes pode ser necessária a realização de biópsia da medula óssea. Nesse caso, um pequeno pedaço do osso da bacia é enviado para análise médica.
Tratamento – A terapêutica da leucemia envolve combinações de quimioterápicos, medicamentos que têm o objetivo de destruir as células cancerígenas para que a medula óssea volte a produzir células normais. Para alguns casos específicos, é indicado o transplante de medula óssea.
O Amazonas ainda não tem uma unidade transplantadora. Com a inauguração do Hospital do Sangue, a expectativa é que os pacientes comecem a realizar o procedimento aqui no estado. Além disso, com o hospital, o Hemoam vai se tornar responsável pelo atendimento e tratamento de todos os tipos de cânceres pediátricos do Amazonas.