A repercussão nas redes sociais da primeira entrevista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na prisão foi maior entre aqueles que já apoiam as teses do petista, segundo levantamento da empresa de análise de dados Bites.
A pesquisa foi divulgada neste domingo (28), dois dias após Lula falar com exclusividade aos jornais Folha de S.Paulo e El País, em sua primeira entrevista desde que foi preso, em abril de 2018.
Desde sexta-feira (26), a equipe de Lula produziu 60 posts que registraram 158 mil interações nos perfis oficiais do ex-presidente no Twitter, Facebook, Instagram e Youtube.
Nesse período, ele conquistou 10.825 novos fãs e seguidores, resultado quatro vezes superior aos dias seguintes à decisão do STJ (Superior Tribunal Federal) que reduziu a pena do ex-presidente.
Nesses dois dias, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) ganhou, por sua vez, 27.945 seguidores, fez 39 posts em seus perfis e obteve 2.741.353 interações no Twitter, Facebook e Instagram. Segundo a pesquisa, os números de Bolsonaro foram 17 vezes maiores que o ex-presidente.
Para Manoel Fernandes, diretor da Bites, a repercussão da entrevista nas redes sociais “está longe de ser uma explosão de apoio a Lula e, por enquanto, não ultrapassou as fronteiras daqueles que já seguem as teses do petista”.
De acordo com o levantamento, entre os deputados federais, a entrevista também ficou restrita aos parlamentares do PT. Os deputados federais produziram 653 posts sobre Lula desde sexta-feira e 547 foram da bancada petista. Os aliados do ex-presidente conseguiram 782 mil interações nessas publicações.
Ao todo, os congressistas fizeram 4.816 publicações que registaram 5,1 milhões de interações. Nesse período o post com mais integração (116 mil), diz a Bite, foi o da deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) com uma entrevista da atriz Maitê Proença defendendo o pacote anticrime do ministro Sérgio Moro.
Entre os senadores, Lula apareceu em 71 posts dos 746 posts publicados desde sexta-feira. O PT também dominou as publicações sobre o ex-presidente.
“Um fenômeno interessante tanto na Câmara e no Senado foi a ausência da defesa de Lula de antigos aliados que estavam com Lula nos seus dois governos e na administração de Dilma Rousseff”, afirma Fernandes.
Ainda de acordo com o levantamento, o número de pesquisas no Google relacionadas ao ex-presidente entre sexta-feira e domingo de manhã ficou em 34, em média, na escala de 0 a 100. Nas 48 horas após a decisão do STJ, essa taxa média foi de 29. A entrevista de Lula despertou um interesse 17% superior aos eventos da redução da sua pena.
Lula foi condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá. Ele está preso desde abril de 2018, depois de ter sido condenado pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), a segunda instância da Justiça Federal.
Na última terça-feira (23), em decisão unânime, a Quinta Turma do STJ reduziu a pena do ex-presidente e abriu caminho para ele saia do regime fechado ainda neste ano. O tribunal manteve a condenação do petista, mas baixou a pena de 12 anos e 1 mês de prisão para 8 anos, 10 meses e 20 dias.
O petista já foi condenado também no caso do sítio de Atibaia (SP) -a 12 anos e 11 meses pela juíza Gabriela Hardt, na primeira instância em Curitiba, pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção. O caso, porém, ainda passará pela análise do TRF-4.
O pedido de entrevista com o ex-presidente passou por um vaivém de decisões judiciais. Em julho de 2018, a juíza federal Carolina Lebbos, responsável pela execução da pena de Lula, barrou a realização da entrevista, afirmando não haver previsão constitucional que dê ao preso direito de falar com a imprensa.
Após reclamação ao STF (Supremo Tribunal Federal) feita pela Folha de S.Paulo, o ministro Ricardo Lewandowski autorizou em 28 de setembro que a entrevista fosse realizada em Curitiba. A liminar, porém, foi derrubada no mesmo dia pelo ministro Luiz Fux, também do Supremo. Ele julgou pedido do partido Novo, que alegava que o PT apresentava Lula como candidato à Presidência da República, desinformando os eleitores.
O petista foi impedido de concorrer na eleição presidencial devido à Lei da Ficha Limpa, que barra candidaturas de condenados em segunda instância, e acabou substituído por Fernando Haddad, também do PT.
Ao suspender a entrevista, Fux determinou ainda que, caso já tivesse sido realizada, sua divulgação estaria censurada. A liminar de Fux foi revogada no último dia 18 pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli.