O dólar comercial opera em alta pelo terceiro dia seguido nesta sexta-feira, avançando 1,1% e cotado a R$ 4,079. O câmbio reage a sinais de fragilidade na retomada econômica e ao temor entre investidores de que a falta de articulação política possa atrapalhar a aprovação da reforma da Previdência. O patamar é o maior desde setembro. Pela manhã, a cotação chegou a R$ 4,09.
Na Bolsa, depois de cair 1,75% na véspera, o índice de referência Ibovespa sobe hoje 1,39%, aos 91.274 pontos, impulsionado por bancos, empresas exportadoras e a Vale, que havia sido a “vilã” do pregão anterior.
A escalada do dólar, que já acumula alta de mais de 4% este mês, já faz com que os investidores especulem sobre em qual nível o Banco Central terá que intervir para frear a tendência. O banco americano Citi estima que o BC deve agir se o dólar atingir R$ 4,20, patamar atingido em meados de setembro passado, durante o período eleitoral.
“O real já desvalorizou em 11% em 104 dias, com desempenho 7% abaixo de outras emergentes. Logo, podemos estar perto da zona de intervenção”, escreveram os estrategistas do Citi, em nota. “Embora esses números não devam ser levados muito ao pé da letra, dado o novo comando do BC, o risco de intervenção aumentou.”
Hoje, o BC realiza leilão de até US$ 10,1 bilhões em contratos de swaps cambiais tradicionais, correspondentes à venda futura de dólares, para rolar estoque que venceria em julho.
“A moeda americana renova altas e isto é derivado, domesticamente, de ruídos envolvendo o Planalto e sua capacidade de articular a reforma. Há que se considerar também a perspectiva por parte do mercado de corte na (taxa básica de juros) Selic, que faz o diferencial de juros cair”, observou o economista-chefe da Necton, André Perfeito.
Perfeito fez referência à distância entre os juros brasileiros e os de países desenvolvidos. Se a Selic, de fato, for reduzida em uma tentativa de estimular a economia, como alguns economistas esperam, será menor a vantagem proporcionada a investidores estrangeiros que investem aqui. Com atratividade menor, a tendência é que menos dólares entrem no país, o que tende a valorizar a moeda americana frente ao real.
Cenário político influencia
Na quinta-feira, a moeda americana fechou cotada a R$ 4,035, no maior patamar desde setembro. A alta do dólar frente ao real foi a maior entre as 31 principais divisas do mundo.
Preocupações com um possível atraso na reforma da Previdência e com as investigações sobre o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, deixam os investidores apreensivos.
O cenário externo também contribui para a desvalorização do real, com a escalada das tensões na guerra comercial entre China e Estados Unidos levando ao enfraquecimento de moedas de países emergentes. O rand sul-africano recua 0,57%, e o peso mexicano se desvaloriza em 0,52%. Mas o real tem o pior desempenho entre todas as moedas relevantes do mundo nesta sexta-feira.
A China afirmou nesta sexta-feira que os EUA precisam demonstrar sinceridade para manter negociações comerciais relevantes, reagindo às sanções à gigante chinesa das telecomunicações Huawei, anunciadas na quinta-feira por Washington. Pequim ainda não disse se vai retaliar.
Na Bolsa de Valores, as ações da Vale caíram 3,23% na quinta-feira, após o Ministério Público alertar sobre o risco de rompimento numa barragem. Nesta sexta-feira, os papéis da mineradora estão sendo negociados em queda, de 0,75%.
*extra