Na ressaca do Carnaval, o dólar subiu mais de 1% nesta Quarta-Feira de Cinzas (6) e fechou o pregão no maior patamar do ano. A Bolsa brasileira recuou em linha com seus pares no exterior.
A moeda americana encerrou o dia cotada a R$ 3,8360 (1,42%).
Já a Bolsa brasileira cedeu 0,41%, a 94.216 pontos. O giro financeiro, porém, foi de R$ 8,680 bilhões -a média diária de 2019 é de R$ 16 bilhões.
O volume de negócios no mercado doméstico foi reduzido pelo pregão mais curto, já que os mercados abriram apenas na parte da tarde.
Isso ajuda a explicar a movimentação brusca da moeda americana nesta quarta. Não foi, porém, um dia tranquilo para divisas de países emergentes: de 24 moedas, apenas duas se valorizaram sobre o dólar nesta quarta.
O pano de fundo é o temor de desaceleração da economia global, especialmente a americana. Quando apenas a economia americana dá sinais de fraqueza, investidores tendem a migrar recursos para outros países, mais arriscados, mas com maior potencial de retorno.
O problema é que o temor de uma crise disseminada eleva a aversão a risco e mantém investidores internacionais em ativos considerados mais seguros, como é o caso do dólar.
“Investidores ainda estão preocupados com a perspectiva de crescimento da economia global”, escreveu a corretora Guide.
“A cautela prevalece nos mercados ao redor do mundo devido aos riscos geopolíticos que se prolongam desde o ano passado: guerra comercial, Brexit, desaceleração da atividade na Europa e China e a disputa entre Trump e o Congresso americano”, disse o banco Fator em relatório.
Há, claro, um adicional de risco no mercado local, a reforma da Previdência. A proposta do governo foi apresentada ao Congresso no dia 20 de fevereiro, mas ainda não começou a tramitar. Ainda antes do Carnaval, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) já admitiu ceder em alguns pontos -alguns não estavam sendo questionados.
Isso elevou a desconfiança de investidores, que contam com a desidratação da reforma da Previdência, mas esperam que o corte na economia não seja tão brusco.
Durante o feriado, foliões protestaram contra o presidente nas principais capitais, e a resposta de Bolsonaro veio com uma postagem de conteúdo obsceno nas redes sociais.
A reação de aliados e opositores foi, em geral, de crítica. Na prática, a mais recente polêmica, de cunho eleitoral, pode criar mais um obstáculo à formação de maioria no Congresso para aprovar a reforma da Previdência, única pauta que realmente interessa ao mercado financeiro.
O recado já havia sido dado pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na semana passada: “O problema é que o presidente está refém do discurso dele de campanha”, disse em evento para o setor financeiro.