Nesta quarta-feira (18), o dólar disparou 2,81%, encerrando o dia cotado a R$ 6,267, um novo recorde nominal para a moeda norte-americana. O movimento ocorre em meio à tramitação do pacote de ajuste fiscal no Congresso Nacional e à última decisão do ano do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, sobre a taxa de juros.
A alta expressiva do dólar foi impulsionada pela incerteza em torno do pacote de corte de gastos do governo federal, coordenado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A Câmara dos Deputados aprovou a primeira parte do projeto na terça-feira (17), e as próximas etapas estão sendo analisadas em ritmo acelerado, já que o recesso parlamentar começa nesta sexta-feira (20).
Entre os pontos aprovados, destaca-se a possibilidade de bloquear até 15% das emendas parlamentares para cumprir o arcabouço fiscal. No entanto, as medidas mais polêmicas — como o limite ao ganho real do salário mínimo e mudanças no Benefício de Prestação Continuada (BPC) — ainda estão pendentes de votação.
Segundo o analista Matheus Spiess, da Empiricus Research, o mercado segue preocupado: “O pacote é insuficiente para resolver os problemas fiscais estruturais do Brasil. Mesmo que seja aprovado, ainda serão necessárias medidas adicionais para reancorar as expectativas.”
Impacto no mercado financeiro
A pressão do câmbio e a incerteza fiscal também impactaram a Bolsa brasileira e os juros futuros:
- Ibovespa: caiu 2,98%, encerrando aos 120.969 pontos;
- Juros futuros: os contratos de janeiro de 2026 subiram para 15,38%, enquanto os de janeiro de 2029 avançaram para 15,57%.
Para conter parte do estresse no mercado, o Tesouro Nacional anunciou três dias de leilões extraordinários de compra e venda de títulos públicos.
Decisão do Fed e cenário internacional
Nos Estados Unidos, o Federal Reserve cortou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, levando-a para a banda de 4,25% a 4,50%. A decisão foi interpretada como um movimento moderado, mas não unânime. O Fed sinalizou que, em 2025, prevê um corte acumulado de apenas 0,50 ponto percentual, indicando uma abordagem cautelosa em relação à flexibilização monetária.
O corte reforçou a valorização global do dólar, impulsionada por expectativas de políticas econômicas mais agressivas no futuro. A estrategista Seema Shah, da Principal Asset Management, destacou: “A redução foi simbólica, mais para acalmar os mercados. No entanto, a perspectiva de inflação e políticas econômicas para o próximo ano exige cautela.”
Embora a cotação de R$ 6,267 represente um recorde nominal, o maior valor do dólar em termos reais foi registrado em setembro de 2002, quando a cotação corrigida pela inflação seria equivalente a R$ 8,81 atualmente.
Fernando Haddad, em coletiva nesta quarta-feira, não descartou a influência de movimentos especulativos no mercado. Ele ressaltou a importância de medidas consistentes para estabilizar a economia: “Já passamos por dias tensos antes, e as intervenções do Banco Central e do Tesouro devem ajudar a acalmar os ânimos.”
No entanto, o mercado segue cético, aguardando um desfecho mais robusto para a crise fiscal brasileira e atento ao cenário internacional, que pode manter o dólar em alta globalmente.
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