Um estudo recente revelou uma consequência direta do garimpo ilegal na região Norte do Brasil: a contaminação de peixes consumidos pela população. Segundo a pesquisa, um em cada cinco peixes consumidos na região está contaminado com mercúrio, substância utilizada no processo de separação do ouro na prática ilegal do garimpo.
O estudo avaliou a qualidade do pescado em 17 municípios de seis estados da Amazônia e os resultados são alarmantes. Em média, 21,3% dos peixes que chegam à mesa dos moradores da região Norte apresentam níveis de mercúrio acima dos limites seguros. Os piores índices foram encontrados em Roraima, onde 40% dos peixes carregam o metal pesado acima do limite recomendado, seguido pelo Acre com 35,9%, Rondônia com 26,1% e Amazonas com 22,5%. O Pará (15,8%) e o Amapá (11,4%) também apresentaram índices preocupantes. Vale ressaltar que a pesquisa não avaliou o pescado nos outros três estados que compõem a Amazônia Legal.
Entre as capitais pesquisadas, Rio Branco, capital do Acre, apresentou o maior potencial de contaminação, chegando a ter níveis de mercúrio até 31 vezes acima do recomendado para crianças de 2 a 4 anos de idade e até 9 vezes acima do limite para mulheres em idade fértil.
Os impactos dessa contaminação são alarmantes, como explica Marcelo Oliveira, especialista em conservação do WWF-Brasil: “Uma mãe que se alimenta de peixe contaminado, o mercúrio passa para o feto. Existem relatos de crianças nascendo na bacia do Tapajós com problemas neurológicos e até mesmo necessitando de cadeira de rodas nos primeiros anos de vida”.
Embora não haja registro de garimpo no Acre, o pescado consumido na região provém de outros estados afetados por essa prática ilegal. Décio Yokota, pesquisador do Iepé, ressalta que o Acre é cercado por regiões com alto índice de garimpo, como a fronteira com o Peru e Rondônia. A pesquisa concentrou-se no peixe oferecido nas feiras dessas cidades, e o Acre depende significativamente do abastecimento dessas regiões.
O coordenador da pesquisa, Paulo Basta, destaca que a contaminação do pescado na Amazônia é uma questão de saúde pública: “O mercúrio utilizado no garimpo causa lesões neurológicas graves que afetam o desenvolvimento das crianças e comprometem as futuras gerações na Amazônia. Essas crianças enfrentarão dificuldades na escola, terão problemas para acessar a universidade e, no final das contas, isso acentuará as desigualdades históricas e aumentará a pobreza na região”.
O Ministério do Meio Ambiente reiterou o compromisso do governo em combater o garimpo ilegal. Medidas foram tomadas, como a retomada da terra Yanomami iniciada em fevereiro, além das ações em outros territórios indígenas. O objetivo é controlar essa prática prejudicial ao meio ambiente e à saúde da população.
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