Pelo menos nove pessoas morreram nesta segunda-feira (18) na Caxemira indiana, em mais um conflito entre militares e rebeldes de Índia e Paquistão. Os confrontos aconteceram numa operação militar, em resposta ao atentado que matou 41 policiais na região na última quinta-feira (14).
Segundo fontes do governo, a polícia indiana matou três militantes do grupo paquistanês Jaish-e-Mohammad (JeM), que assumiu a responsabilidade pelo ataque da semana passada.
“O confronto ainda está acontecendo e as forças de segurança estão em campo”, disse a polícia em um comunicado. Quatro soldados indianos, um policial e um civil também foram mortos. Outros nove soldados ficaram feridos. Alguns rebeldes conseguiram fugir.
As mortes desta segunda-feira aconteceram depois que forças de segurança lançaram uma operação contra um rebelde no distrito de Pulwama, a 30 km ao sul de Srinagar.
Desde a semana passada, forças indianas iniciaram uma grande operação para encontrar os rebeldes, suspeitos de praticar o ataque suicida. No domingo, a polícia disse que as forças indianas haviam detido 23 homens suspeitos de ligações com os militantes que realizaram o atentado.
O atentado de quinta-feira (14) e os confrontos desta segunda-feira (18) são os mais graves na Caxemira indiana desde setembro de 2016, quando militantes invadiram um acampamento do exército indiano em Uri e mataram 20 soldados.
Índia e Paquistão disputam a região da Caxemira desde 1948 e reivindicam o território inteiro como seu, enquanto governam parte dele. A Índia acusa o Paquistão de dar apoio material aos militantes. Islamabad diz que só oferece apoio moral e diplomático à Caxemira muçulmana.
Em 2019 já são 50 mortos na região. Em 2018 foram 100 civis assassinados em outros episódios relacionados ao conflito.
A tensão na Caxemira já levou a três guerras e deixou mais de 45 mil mortos. Preocupa o fato de os dois países serem potências nucleares.
O ataque pode colocar o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, sob pressão política para agir contra os militantes e o Paquistão. Randeep Singh Surjewala, porta-voz do principal partido do Congresso da oposição, acusou Modi de comprometer a segurança.
“Zero ação política e política zero para enfrentar o terror levaram a uma situação de segurança alarmante”, disse Surjewala em uma de uma série de tweets.
Modi prometeu que os responsáveis vão “pagar” pelo atentado suicida, que desencadeou uma onda de indignação na Índia, com manifestações e apelo à vingança.
No domingo (17), manifestantes em Nova Délhi, capital da índia, queimaram símbolos de autoridades paquistanesas e do grupo Jaish-e-Mohammed. Em várias cidades houve ataques contra os cidadãos da Caxemira. Nas redes sociais circulam pedidos de vingança, o que preocupa os grupos de direitos humanos.
“Estamos em um momento perigoso e as autoridades devem fazer tudo o que puderem para manter o estado de direito”, disse Aakar Patel, chefe da Anistia Internacional na Índia. “Cidadãos da Caxemira, que estão espalhados em toda a Índia, estão apenas buscando melhorar suas vidas e não devem ser alvo da violência simplesmente por causa de onde eles vêm”.
As manifestações também se espalharam para as duas grandes obsessões indianas: o críquete e a indústria cinematográfica de Bollywood.
Vários torcedores de críquete pediram à Índia que boicote uma partida da Copa do Mundo contra o Paquistão em junho, enquanto o Cricket Club da Índia encobriu um retrato do primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan -ex-jogador de críquete- em seu escritório em Mumbai.
A All India Cine Workers Association pediu a proibição de paquistaneses na indústria cinematográfica. A Confederação de Todos os Comerciantes da Índia pediu uma greve nacional para protestar contra o ataque. Lojas foram fechadas em vários estados.
A cidade de Srinagar, onde aconteceu o atentado, enfrentou o quarto dia de toque de recolher. Depois do ataque houve incêndios criminosos em propriedades de muçulmanos.
Para restringir o fluxo de informações, a Internet foi cortada em todo estado. A estimativa das autoridades é de que a Índia tenha meio milhão de soldados mobilizados na Caxemira, uma das zonas mais militarizadas do mundo.
Os observadores, no entanto, estimam que a Índia conterá sua resposta no curto prazo. O motivo é a visita à região do príncipe herdeiro saudita Mohamed bin Salmán.
Nova Deli e Islamabad procuram manter boas relações com a Arábia Saudita. Mohamed bin Salmán está hoje (18) no Paquistão e na terça (19) e quarta-feira (20) na Índia.