Apesar do reforço no policiamento, que conta com dois blindados em dois acessos à Favela do Lixão, em Duque de Caxias, o clima ainda é de tensão, nesta manhã, entre moradores e trabalhadores no municipio da Baixada Fluminense. Na terça-feira, a região foi palco de cenas de violência e vandalismo após o chefe do tráfico na comunidade, Charles Jakson Neres Batista, o Charlinho do Lixão, ser morto em confronto com equipes do 15º BPM (Duque de Caxias).
Uma comerciária que trabalha numa loja de venda de fogos de artifício no Centro da cidade teme que ocorram novos tumultos após o sepultamento do corpo do traficante, marcado para a tarde desta quarta-feira. Esse é o receio da maior parte das pessoas que conversaram com uma equipe do GLOBO, nesta manhã. Na terça-feira, a comerciária foi liberada do trabalho por volta das 16h30m, quando várias pessoas começaram a correr na Avenida Governador Leonel Brizola no centro. Normalmente, ela deixa o trabalho às 19h30m.
— Ainda não consegui relaxar. Estou tensa até agora e imagino que possa acontecer alguma coisa mais tarde. Nossa preocupação ontem era a de que invadissem a loja para pegar fogos de artifício. Foi um desespero. Saí mais cedo e tenho sorte de morar perto, pois não conseguiria pegar ônibus — contou a mulher.
Das quatro escolas que permanecem fechadas em Caxias, que conta com 178 unidades públicas de educação, uma delas fica dentro da Favela do Lixão. Trata-se da Escola Municipal Ana de Souza Herdy, que atende 320 alunos. Ao todo 1.940 alunos da rede estão sem aulas, informou a Secretaria municipal de Educação. As demais unidades fechadas são Escola Municipal Darcy Ribeiro, com 330 alunos; Romeu Menezes com 800 alunos; Jair Alves com 340 estudantes; e a creche Iracy Moreira com 150 alunos. As unidades, que ficam próximas à favela, tiveram as atividades suspensas por ordem do governo municipal.
— Ontem, foi um sufoco isso aqui. Parece que tudo aconteceu numa reação em cadeia. As pessoas correndo, a loja do lado fechando, nós resolvemos fechar e a do outro lado também. O temor de um arrastão é muito grande e não podemos correr esse risco — comentou um funcionário de uma loja de eletrodomésticos.
Patricia Coelho, advogada do Sindicato do Comércio Varejista de Duque de Caxias e Magé, a única recomendação dada aos seus 300 associados no município é que somente fechem as portas caso haja arrastão.
— Não temos uma orientação de pânico. O comércio está funcionando e a nossa recomendação é que os comerciantes fechem suas portas quando houver arrastão. Mas torcemos para que nada disso aconteça — disse Patrícia.
Unidades de saúde que na terça-feira fecharam as portas com receio de uma invasão nesta quarta-feira funcionam normalmente. A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) infantil Walter Garcia, que fica bem próxima à Favela do Lixão, fechou suas portas na terça-feira por volta de 15h30m. Nesta quarta-feira, o atendimento é normal.
Charlinho estava numa casa na Covanca, também em Caxias, quando recebeu voz de prisão dos PMs. Ele resistiu e acabou sendo baleado. Além do Lixão, ele é apontado como chefe do tráfico em favelas de Mauá, em Magé, outro município da Baixada. O criminoso foi indiciado pela morte do bebê Arthur, baleado ainda no útero da mãe.
O reforço no policiamento acontece em vários bairros de Caxias, especialmente no Centro da cidade e nos acessos à Favela do Lixão. Policiais do batalhão de choque do 15º BPM fazem patrulhamentos de moto e de carro no bairro Covanca, próximo a São João de Meriti onde o traficante Charlinho do Lixão foi morto dentro de uma residência.