A companhia Energoatom, que opera as quatro usinas nucleares da Ucrânia, informou hoje que a estação de Chernobyl está sem energia elétrica, em meio ao conflito com a Rússia. Segundo a estatal, a falha no fornecimento pode fazer com que o combustível nuclear estocado no local aqueça e emita radiação pela Europa.
Em comunicado, a empresa diz que a linha de transmissão de energia entre Chernobyl e a capital Kiev foi danificada pelos ocupantes russos. O combustível armazenado no local precisa de resfriamento contínuo, e caso a temperatura aumente, pode liberar substâncias radioativas. “O vento pode levar essa nuvem radioativa a outras regiões da Ucrânia, Belarus, Rússia e Europa”, diz a nota.
A Energoatom acrescentou ainda que os sistemas de ventilação e extinção de incêndio não estão funcionando, o que pode fazer com que os funcionários recebam uma dose perigosa de radiação e um incêndio se propague rapidamente se houver um bombardeio no local.
De acordo com a empresa, é impossível fazer os reparos necessários para restabelecer a eletricidade, já que há combate na região.
AIEA diz que situação é urgente
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) comunicou ontem que perdeu o contato com a usina, e que a situação é urgente.
O diretor-geral da entidade, Rafael Mariano Grossi, se prontificou a ir até o local para garantir a segurança das centrais nucleares do país. Ele também condenou a situação dos funcionários do local, que segundo a ONU, estão trabalhando interruptamente desde o início do conflito.
“Estou profundamente preocupado sobre a situação difícil e estressante dos trabalhadores da usina nuclear de Chernobyl, e o risco que isso carrega. Eu peço que as forças no controle do local facilitem a rotação segura dos funcionários”, disse.
A usina de Chernobyl foi onde ocorreu o maior acidente nuclear da história, em 1986. Um dos reatores da usina explodiu e causou a morte imediata de 30 pessoas. Quase 340 mil pessoas que moravam num raio de 30 quilômetros da usina precisaram ser evacuadas, e altos níveis de radiação foram registrados na Polônia, Áustria, Suécia e Bielorrússia.
Desde 2015, os reatores estão na fase de descomissionamento, quando só cientistas continuam trabalhando para observar a situação da radiação. “A descontaminação de Chernobyl envolveu uma massa de 1,5 milhão de pessoas, teve um custo altíssimo e acabou em 2017. O espaço foi lacrado, virou uma espécie de sarcófago e na sequência se transformou em um roteiro turístico”, explica Leonardo Trevisan, professor de geoeconomia internacional da ESPM.
Via: Uol