“Acontecem acidentes dentro da cidade, com o excesso de velocidade das lanchas. O banzeiro gerado faz com que as casas balancem, a água as invade, e também derruba eletrodomésticos dos moradores. Isso gera muita denúncia, são os exemplos de ocorrências que precisamos nos adaptar para atender”. A descrição é do comandante do 3º Grupamento de Polícia Militar (GPM), tenente Everton Lima, responsável pelo policiamento no município de Anamã, o mais atingido pelas cheias dos rios no Amazonas.
Todos os anos, os moradores da cidade localizada a 165 quilômetros de Manaus têm de se adaptar para sobreviver seis meses sob as águas. Neste ano, com a cheia dos rios alcançando níveis históricos, a rotina dos policiais militares do município teve de mudar quase que por completo. Vivendo em uma situação adversa, eles precisam estar preparados para atender ocorrências atípicas como furtos ou roubos de canoas, motor rabeta e excesso de velocidade de embarcações dentro da cidade.
As dificuldades no trânsito das águas levaram os policiais a participar de uma reunião na Câmara Municipal.
“É um tráfego dentro da cidade. A gente tenta levar para o lado da perturbação do sossego para tentar dar uma resposta para a população continuar tendo essa sensação de segurança. Nesse período, os crimes normais continuam acontecendo, crimes de roubo, crime de tráfico de entorpecente, furto. O que modifica é alguma das modalidades. O furto passa a ser furto de canoa, furto de lancha, furto de motor rabeta”, exemplificou o tenente Everton Lima.
Para auxiliar a população nas vias alagadas, os policiais precisam mudar o fardamento, deixando de lado o oficial e passando a utilizar um modelo mais leve, usado em atividades físicas. Os veículos de quatro rodas também precisam ser substituídos por lanchas, que são adquiridas em uma parceria entre a Prefeitura de Anamã e a Polícia Civil do Amazonas (PC-AM).
De acordo com o comandante, as mudanças na rotina de policiamento e combate ao crime refletem o grau de adaptação que o policial precisa ter no serviço de rua, atendimento de ocorrências e estar preparado para todo tipo de situação. “A gente faz o concurso para se tornar policial militar do estado do Amazonas, então a gente tem que se adaptar a toda e qualquer realidade”, salientou.
Ribeirinhos – Segundo o catraieiro Anderson da Silva, os moradores de Anamã sabem que todos os anos vão precisar de marombas para as suas casas e de canoas para se locomover. “Eu já tenho uma expectativa, são seis meses no seco e seis meses no alagado. Então no período da seca eu já me preparo para o alagado, já compro madeira, já mando fazer uma canoa porque eu sei que vai alagar, é fato”, disse.
Anderson afirma também que tem uma comunicação muito próxima aos policiais, e isso ajuda a população de Anamã a se sentir mais segura. “Eles são pessoas que eu admiro porque eles não chegam julgando, eles procuram saber, averiguar se a pessoa está errada ou não, e eu admiro”, explicou.