Fundado em 1803 com a autorização do príncipe regente dom João 6º, desde sua origem o hospital mais antigo do Rio Grande do Sul conta com donativos para manter o atendimento à população. Recentemente, a Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre recebeu a maior doação individual de sua história.
Um casal de empresários gaúchos doou R$ 40 milhões à instituição no último dia 13. Com a verba, o hospital vai construir uma nova emergência para atendimento gratuito do Sistema Único de Saúde (SUS).
A previsão é que a unidade fique pronta em 2022, gerando 500 postos de trabalho. As obras começam em março. O prédio de treze andares abrigará a emergência no térreo, ampliando a área atual de 600 m² para 2.325 m². O custo total é de R$ 177 milhões.
Por unanimidade, o conselho da entidade decidiu batizar a estrutura de Hospital Nora Teixeira, nome da empresária que doou a verba. Ela é casada com Alexandre Grendene, que apoiou a ação voluntária.
“Há anos eu visitava a emergência e queria fazer alguma coisa. Se é difícil ficar doente com dinheiro, imagina sem. A situação é o caos e não é culpa da Santa Casa, simplesmente não tem mais lugar. Conversei com a diretoria e explicaram que a solução seria construir um novo prédio. Vou tentar assumir, pensei. Falei com meu marido. ‘Vamos ter que fazer. Tu vai ter que me dar [o dinheiro]’, risos. Ele é uma pessoa muito generosa, me ajuda em todos os projetos”, contou Teixeira, 52, à reportagem.
Desde os 18 anos a empresária, que tem uma casa de eventos na capital gaúcha, faz voluntariado. Ela começou acompanhando a avó no Educandário São João Batista, que atende crianças com deficiência. Ela também colabora com o Pão dos Pobres, onde organiza atividades para as crianças abrigadas.
A maior parte dos atendimentos da Santa Casa (66%) é prestada pelo SUS. O diretor geral da instituição, o médico Júlio Matos, explica que de cada R$ 100 gastos no SUS, o hospital recebe R$ 46 do governo. Por isso, em 2018, o déficit gerado pelo SUS foi de R$ 164 milhões.
Segundo Matos, o equilíbrio nas contas é alcançado com os atendimentos privados, por planos de saúde e ações como cobrança de estacionamento e funcionamento da cafeteria. No entanto, não há margem para investimentos. Por isso, o novo prédio é planejado para ser autossustentável financeiramente, com a emergência gratuita e leitos que gerem renda ao hospital.
Não é a primeira vez que Teixeira ajuda a Santa Casa. Liderando um grupo de mulheres, o Voluntárias pela Vida, ela arrecadou R$ 5,8 milhões para a UTI pediátrica ampliar o número de leitos, em 2014.
“Jantávamos entre amigos quando um cirurgião Fernando Lucchese contou que tinha tido um dia terrível. O hospital recebeu uma ordem judicial que determinava internação de um bebê. ‘Todos leitos estão ocupados, se eu desligar o aparelho de alguma criança para abrir vaga, ela morre. Como vou escolher quem sobrevive ou não?’, ele falou. Ali percebi que precisávamos agir”, relembra a empresária.
Com as obras da pediatria entregues rapidamente, os doadores se sentiram confiantes para colaborar com o grupo. Depois chegaram R$ 6,2 milhões para a área de neurologia, onde a fila por cirurgia diminuiu de meses para dias. Teixeira ainda auxiliou uma casa que serve de abrigo temporário para as mães de outras cidades que acompanham os filhos internados no hospital.
Segundo o diretor, 51% de toda assistência SUS no país é feita por santas casas ou hospitais filantrópicos e 150 milhões de brasileiros contam apenas com o atendimento gratuito. Esses são bons motivos para os empresários contribuírem com esse tipo de estabelecimento, defende.
“O empresariado deve fazer um esforço para ajudar essas instituições. Vão estar, de alguma forma, retribuindo a contribuição que a população dá aos seus negócios, por exemplo, ao adquirirem seus produtos ou prestação de serviços. Vale a pena”, diz o diretor.