Neste Setembro Verde, que incentiva a doação de órgão e tecidos, a Central de Transplantes do Amazonas sensibiliza sobre a importância de se comunicar, em vida, o desejo de doar órgãos. A central, vinculada a Secretaria de Estado de Saúde (SES-AM), também esclarece dúvidas e mitos sobre a doação.
Para o coordenador da Central, o médico-cirurgião de transplante de fígado, Marcos Lins, falar sobre doação de órgãos com a família é a principal forma para impulsionar o número de transplantes. A negativa familiar, que no Amazonas é de 65%, em média, acontece porque o potencial doador, ainda em vida, não havia deixado claro qual era o seu desejo.
Além disso, os mitos desencorajam a família a aderir esse ato de solidariedade. Lins acredita que a Campanha do Setembro Verde tem como principal função levar informação para a população.
“Nós não sabemos o dia de amanhã. Hoje, é um desconhecido que está na fila, amanhã pode ser um parente, um filho, pode ser você. Então, temos que nos sensibilizar, manifestando o desejo de ser doador para a família, caso alguma fatalidade aconteça”, disse o coordenador.
Mitos – Um dos mitos mais comuns é a deformação do corpo do ente querido após retirada dos órgãos. De acordo com o coordenador, as equipes de transplante realizam o procedimento com o todo o cuidado necessário.
“Os órgãos e tecidos doados são removidos por meio de uma cirurgia. Portanto, a doação não desfigura o corpo. É um mito, porque é uma cirurgia como qualquer outra. São retirados os órgãos, limpamos e fechamos sem deformidade nenhuma, disse o especialista.
Outra crença popular é a de que um paciente em morte encefálica possa voltar a viver. A afirmação se torna um mito, conforme o especialista, uma vez que a morte encefálica é irreversível.
Ele explica que o protocolo para atestar a morte encefálica aplicado no Brasil está entre os mais rígidos do mundo, sendo atestada a morte por dois médicos diferentes, seguindo os critérios do Conselho Federal de Medicina (CFM).
“A finalidade é comprovar a ausência de reflexos do tronco encefálico (cérebro), através da realização de dois exames clínicos, um teste de apneia e um exame complementar (imagem). Somente nesta condição é possível a doação de múltiplos órgãos”, explicou Lins.
Somente após a comprovação da morte cerebral é que a equipe da Central de Transplantes coloca como opção para a família a doação de órgãos. Sensibilizando os familiares sobre a importância do ato.
Captação desde 2011 – As doações de órgãos, a partir de doadores falecidos no Amazonas, iniciaram em 2011. Desde então, foram captados 306 rins e 40 fígados. Já as captações de córneas (tecidos) iniciaram em 2004, totalizando até o momento 3.818 doações.
No estado, os órgãos doados são fígado e rim. Já os tecidos são as córneas. Os demais órgãos, como coração, pulmão, pâncreas e intestino não são captados porque possuem tempo de isquemia (tempo adequado entre a retirada e o transplante) menor que o tempo de transporte para outros estados.
Os órgãos doados no Amazonas são ofertados para a Central Nacional de Transplantes (CNT), órgão que fica em Brasília e é responsável por localizar um receptor em um ranking nacional. Uma vez feita essa identificação, o órgão é enviado para o estado onde se encontra o receptor.
A compatibilidade entre doador e receptor é determinada por exames laboratoriais, e a posição em lista, é determinada com base em critérios como tempo de espera e urgência do procedimento.
O que é um transplante de órgão? – O transplante de órgãos é um procedimento cirúrgico que consiste na reposição de um órgão ou tecido de uma pessoa doente (receptor) por outro órgão ou tecido saudável de um doador, geralmente após morte cerebral, ou seja, com a perda completa e irreversível das funções cerebrais, mas também em vida (intervivos), quando se doa parte de um órgão para um familiar.