A primeira-ministra alemã, Angela Merkel, visitou as regiões afetadas por inundações catastróficas ao longo dos últimos dias e prometeu ajuda financeira imediata às famílias atingidas. O número total de mortos na Alemanha e na Bélgica, os dois países mais atingidos, subiu para 191, segundo levantamento divulgado no início da tarde deste domingo (18).
“É aterrorizante”, disse Merkel aos moradores de Adenau, cidade no estado da Renânia-Palatinado. “O idioma alemão mal consegue descrever a devastação que ocorreu.”
A líder alemã afirmou ainda que os governos devem aperfeiçoar e acelerar seus esforços para enfrentar o impacto das mudanças climáticas. Nesta semana, a União Europeia apresentou um novo plano para tentar reduzir a poluição gerada pelo bloco e, assim, conter o aquecimento global.
Segundo especialistas ouvidos pela Folha, o aumento das temperaturas em nível global gera um acúmulo de energia na atmosfera que se dissipa por meio de eventos climáticos extremos, que tendem a se tornar cada vez mais poderosos e mais frequentes.
Neste domingo, o distrito de Berchtesgadener Land, na Baviera, no sul do país, foi atingido por novas enchentes que mataram ao menos uma pessoa. As estradas tornaram-se rios, veículos foram arrastados e a lama espessa soterrou partes do território, que faz fronteira com a Áustria.
Centenas de socorristas procuram por sobreviventes. “Não estávamos preparados para isso”, disse o líder local, Bernhard Kern, acrescentando que a situação se deteriorou “drasticamente” na noite de sábado (17), de modo que os serviços de emergência tiveram pouco tempo para agir.
O distrito de Ahrweiler, ao sul da cidade de Colônia, soma ao menos 110 mortos. Segundo a polícia, é provável que mais corpos sejam encontrados na região à medida que as águas da inundação baixem nos próximos dias e horas.
As enchentes, provocadas em parte pelo transbordamento de vários rios europeus, começaram na última quarta-feira (14). Além da Renânia-Palatinado, o estado da Renânia do Norte-Vestfália foi o mais atingido.
Comunidades inteiras ficaram sem energia elétrica, sem fornecimento de água potável e sem meios de comunicação —o que fez disparar o número de desaparecidos, visto que as autoridades ainda não conseguem distinguir o número de pessoas que podem estar entre os mortos ou simplesmente inacessíveis.
O governo alemão vai preparar um pacote emergencial de auxílio às vítimas avaliado em mais de 300 milhões de euros (R$ 1,8 bilhão). Outros bilhões devem ser destinados a reparar a infraestrutura danificada, como edifícios, ruas e pontes destruídas.
“Os danos são enormes, e isso é claro: quem perdeu seus negócios, suas casas, não pode lidar com essas perdas sozinho”, disse o ministro das Finanças, Olaf Scholz, ao jornal alemão Bild am Sonntag.
Segundo outro ministro do governo de Merkel, Peter Altmair, da Economia, a pasta estuda ainda um pagamento de dez mil euros (R$ 60,4 mil) a empresas afetadas pelas enchentes e pela pandemia de coronavírus.
Na Bélgica, o governo declarou luto nacional na próxima terça-feira (20). O país soma ao menos 31 mortos em decorrência das chuvas. Os níveis de água baixaram neste domingo, o que permitiu o avanço das operações de limpeza e de resgate.
Militares foram enviados à cidade de Pepinster, onde ao menos dez construções desabaram, em busca de outras vítimas. Dezenas de milhares de pessoas estão sem eletricidade, e as autoridades belgas disseram que o fornecimento de água potável também é um fator de grande preocupação.
Na Holanda, os serviços de emergência informaram que o cenário está ligeiramente mais estável na parte sul da província de Limburg, onde dezenas de milhares de moradores foram forçados a abandonar suas casas.
A região norte da província, no entanto, segue em alerta máximo. Segundo as lideranças locais, ainda há tensão no monitoramento de diques devido ao risco de rompimento das barragens. No sul de Limburg, também há preocupação com a infraestrutura de estradas e pontes atingidas pelas inundações. Os danos na Holanda, até este domingo, são apenas materiais. Não há registro de mortes ou desaparecidos no país.
Em Hallein, na Áustria, o rio Kothbach transbordou na noite de sábado e inundou o centro da cidade, mas não houve perdas humanas. Na província de Salzburgo, a previsão de mais chuvas para este domingo deixou as autoridades em alerta e, em Tirol Ocidental, os níveis de água em algumas regiões superaram recordes dos últimos 30 anos.
Neste domingo, o papa Francisco, em sua primeira aparição pública desde que recebeu alta hospitalar após uma cirurgia, expressou solidariedade aos atingidos pelas inundações catastróficas na Europa. “Que o Senhor acolha os falecidos e conforte os seus entes queridos, e que Ele apoie os esforços de todos os que estão ajudando os que sofreram danos graves”, disse o pontífice.
*Folha de São Paulo.