Enquanto cristãos se reuniam para celebrar a missa de Páscoa no Sri Lanka neste domingo (21), uma série de explosões contra igrejas e hotéis deixou ao menos 207 mortos e 450 feridos.
Trata-se do mais violento atentado no país desde o fim da guerra civil entre governo e separatistas tâmeis, há dez anos.
Segundo as autoridades, os ataques ocorreram de forma coordenada em oito pontos em três cidades. Nenhum grupo assumiu a ação, que teria sido obra de homens-bomba.
Treze pessoas foram detidas por suspeita de conexão com o ataque. Três policiais foram mortos quando invadiram uma pousada com suspeitos em Colombo, a maior cidade do país.
Segundo a polícia, as oito explosões começaram por volta das 8h45 (0h45, no horário de Brasília) durante a missa.
Em Colombo, foram atacados três hotéis (Shangri-La Colombo, Kingsbury Hotel e Cinnamon Grand Colombo) e a igreja de Santo Antônio.
Foram registradas explosões ainda em um apartamento e em uma pousada na cidade –locais que teriam sido usados como esconderijo pelos autores do atentado.
Hóspede do Shangri-La, Sarita Marlou disse ao jornal The New York Times que estava dormindo em seu quarto no 17º andar e que foi acordada pela barulho da explosão, que ocorreu em um restaurante no 3º andar –cheio de pessoas tomando café da manhã.
“Poucos minutos depois, nos pediram para sair. Enquanto corria pelas escadas, vi muito sangue no chão, mas ainda não sabíamos o que realmente tinha acontecido”, afirmou.
Dona de uma loja próxima a igreja de Santo Antônio, N. A. Sumanapala disse que foi ao local para ajudar nos resgates. “Era um rio de sangue [lá dentro]. Cinzas caiam como neve”, disse ele também ao New York Times.
A explosão mais violenta aconteceu na igreja de St. Sebastian, em Negombo (30 km de Colombo), onde ao menos 62 pessoas morreram. A outra explosão aconteceu em Batticaloa (200 km de Colombo), matando ao menos 27.
O premiê do Sri Lanka, Ranil Wickremesinghe, admitiu que houve um alerta sobre um possível atentado no país, mas disse que ele e seu gabinete não foram informados e as medidas adequadas não foram tomadas.
O jornal The New York Times informou que o vice-inspetor-geral de polícia, Priyalal Dassanayake, enviou uma carta em 11 de abril ao alto escalão de segurança do governo alertando sobre ataques planejados contra igrejas.
A carta menciona uma ameaça feita pelo grupo radical islâmico National Thowheeth Jama’ath, citando fontes de inteligência internacionais.
“Todos os funcionários devem ser instruídos a prestar a máxima atenção a esse relatório e ser extra vigilantes e cuidados com relação a localidades VIP e sob sua supervisão, escreveu Dassanayake. “Investigações altamente confidenciais estão em andamento.”
Wickremesinghe afirmou que a prioridade do governo é “apreender os terroristas”. “O primeiro de tudo é garantir que o terrorismo não levante sua cabeça no Sri Lanka”, afirmou.
Alegando a necessidade de evitar o surgimento de boatos, o governo do Sri Lanka bloqueou acesso a redes sociais e a aplicativos de mensagens.
Segundo a ONG britânica NetBlocks, os moradores do Sri Lanka estão sem acesso a Facebook, Instagram, YouTube, WhatsApp e SnapChat, entre outras plataformas.
Um toque de recolher foi decretado em todo o território até 6h de segunda (22), e as escolas vão ficar fechadas até no mínimo quarta-feira (24).
Pelo menos 35 dos mortos eram estrangeiros, segundo o The New York Times, incluindo britânicos, holandeses, indianos, dinamarqueses, turcos e ao menos um português.
As ações fizeram aumentar o temor de uma nova onda de violência étnica no país. Na noite de domingo, uma mesquita e duas lojas de muçulmanos foram atacadas com coquetel molotov em Colombo.
O Sri Lanka, uma ilha no oceano Índico, enfrentou décadas de uma guerra civil que terminou em 2009 e que opôs a maioria cingalesa –predominantemente budista– à minoria tâmil (majoritariamente hindu).
O conflito só acabou quando as forças oficiais fizeram uma ofensiva militar contra a minoria, o que teria deixado até 40 mil tâmeis mortos.
O papa e outros líderes mundiais condenaram os ataques.
“Gostaria de expressar minha proximidade afetuosa à comunidade cristã, atacada enquanto se reunia para orar, e a todas as vítimas dessa violência cruel”, disse o pontífice durante a mensagem de Páscoa na praça de São Pedro, no Vaticano. Francisco visitou o Sri Lanka em 2015.
“Em nome dos brasileiros, condeno os ataques que deixaram centenas de vítimas no Sri Lanka, inclusive em igrejas, onde se celebrava a Ressurreição de Cristo”, disse o presidente Jair Bolsonaro em uma rede social.
*Folhapress