A Polícia Civil de Santa Catarina identificou a arma utilizada na cruel tragédia na escola infantil Pró-Infância Aquarela, na manhã de terça-feira (4) em Saudades, no Oeste do Estado, como uma Katana, espada milenar de origem japonesa. A arma, que é rara de ser encontrada no Brasil, costuma ser utilizada como decoração por colecionadores, e o valor chega a passar dos R$ 5 mil.
Foi com ela que um jovem de 18 anos matou cinco pessoas. Entre as vítimas fatais estão três crianças, todas bebês com até dois anos, a professora Keli Adriane Anieceviski, de 30 anos, e a agente educativa, Mirla Renner, de 20 anos.
De acordo com o cuteleiro José Marcos Massato Nishimura, a Katana “é propriamente a arma dos samurais, e é um equívoco dizer que ela é ‘espada ninja’. Aqui no Brasil são poucos que fazem essa espada”.
“Se a espada apreendida for original, ou tiver procedência japonesa, desmontando o cabo da lâmina, que é preso por um pino, encontra-se o nome do fabricante/artesão, material e data. Alguns até nomeiam a espada por ser única. Com relação ao preço, aquelas que são forjadas no Brasil têm custo superior a R$ 5 mil”, avalia o profissional.
“Para ser considerada Katana, a lâmina não deve ser inferior a 60 cm, pois nesse caso é uma espada chamada Wakizachi, que tem sua lâmina a partir dos 45 cm”, explica o dono da Cutelaria Nishimura, de São José, na Grande Florianópolis.
Afiadas e mortais
Segundo Nishimura, as katanas originais e forjadas com o aço Tamahagane são consideradas “as espadas mais afiadas e mortais”.
Isso se deve pelo fato do aço, técnica e design, serem “pensados e criados para encerrar o combate com apenas um golpe”. A função original desse tipo de espada é exclusivamente para combate e treino, informa o cuteleiro.
A espada Katana geralmente é comprada com um aço de baixa qualidade e sem acabamento, pois é utilizada apenas para enfeitar o ambiente e dessa forma tem um custo menor.
Compra de armas brancas no Brasil
A SSP/SC (Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina) e questionou sobre as regulamentações e ações de fiscalização para a compra e porte de armas brancas no Estado.
De acordo com a assessoria de imprensa do órgão, não há nenhuma norma que proíba a compra de armas brancas. A nível nacional, a compra não é crime, é contravenção penal e está no artigo 19, sem mencionar fiscalização.
Também não há leis de autoria da Alesc (Assembleia Legislativa de Santa Catarina) sobre o tema em vigor no Estado.
Polícia ainda investiga a motivação do crime
A arma foi recolhida no local do crime, ainda na manhã de terça (4) e encaminhada à perícia. Em entrevista coletiva realizada já no período da noite, o delegado Jerônimo Marçal deu mais detalhes sobre o perfil do autor.
“Guardava dinheiro, inclusive em espécie, ele estava com R$ 11 mil na casa dele. Mas isso os próprios familiares relataram que era dinheiro da empresa, porque como ele não era de sair, socializar, estava guardando esse dinheiro”, disse.
“Eram duas armas brancas, uma maior e uma menor. Ao que tudo indica, pelo que IGP passou, uma só foi utilizada para fazer o que ele fez. A outra ele tinha junto com ele, mas não usou. Essas duas armas ele tinha comprado há pouco tempo. Não tinha passagens, não era nenhum conhecido da polícia, nada. Os dois instrumentos que ele utilizou no crime ele havia comprado há pouco tempo”.
A Polícia Civil conversou com os pais do autor do crime na casa deles. A mãe perguntou o que ele queria com as armas e ele brincou que era para maltratar um bichinho que ela tem em casa. Em tom de brincadeira, ninguém da família dele acreditou que ele pudesse fazer isso”, revelou o delegado Jerônimo Marçal.
‘Rapaz problemático’
“Temos algumas informações e traçamos um fio, ainda muito incipiente, mas que indica um rapaz problemático”, informou o delegado.
“Pessoas próximas a ele relataram que ele vinha enfrentando bullying na escola, vinha maltratando alguns animais, e é muito introspectivo. Aquele perfil do jovem que se tranca no quarto e a gente não sabe o que tá fazendo. Gostava de jogos online, alguns com violência”, relatou.
A expectativa do delegado é conseguir interrogar o rapaz de 18 anos para ter mais informações fundamentais para a investigação.
“Eu espero conseguir interrogá-lo, ainda não consegui porque ele tá em estado grave em Chapecó. Obviamente ele tem o direito de permanecer em silêncio, mas eu quero ver o que ele vai contar, porque aí a gente vai poder juntar a versão dele com peças que a gente já coletou e ainda vai coletar nos próximos dias, para tentar entender esse crime”, disse.
As informações preliminares traçam um perfil de um jovem com problemas, mas simples, sem levantar qualquer tipo de suspeitas, informou Marçal.
Segundo descreveu o policial, ele estava no Ensino Médio, era um jovem simples, trabalhava em uma empresa de Saudades. “Era sim um jovem problemático mas, de acordo com a família, dentro da normalidade”, disse.
“Conseguimos conversar com algumas pessoas muito próximas a ele, ninguém fazia ideia de que ele pretendia fazer isso. Menos ainda qualquer outro envolvido, mas são circunstâncias que vamos aprofundar depois. Sendo honesto, não sei se vamos conseguir chegar lá no ponto do porquê ele decidiu fazer isso, naquele local exato. Nosso objetivo é tentar entender tudo isso, até pra prevenir ações futuras”, descreveu.
Local pode ter sido escolhido por ser “alvo fácil”
Ainda na entrevista coletiva da noite desta terça (4), Marçal levantou uma presunção preliminar sobre o que teria motivado a escolha da creche para o ataque do jovem.
“Uma presunção com base no que a gente tem, é da escolha pelo lugar pelo alvo fácil, pela facilidade que ele teria no local. A gente trabalha com várias hipóteses do que pode ter levado ele a fazer o que ele fez”, disse o delegado.
*Com informações ND+