Os brasileiros com 60 anos ou mais correspondem a 19% das pessoas em idade de trabalhar, mas somente 8% estão na ativa.
Com a reforma da Previdência, esse número vai ter que subir, pois os maiores de 50 anos estão na mira do governo. A proposta é definir idade mínima de 65 anos (homens) e 62 (mulheres) no benefício.
No último trimestre de 2018, 93 milhões de brasileiros estavam trabalhando, nem todos com carteira assinada. Desse total, 7,5 milhões têm a partir de 60 anos, segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do último trimestre de 2018. Os idosos são quase 16% da população.
Em 2015, último ano em que a informação foi divulgada pelo IBGE, 5,188 milhões de aposentados trabalhavam.
Seguir no mercado após os 60 anos, porém, pode não ser tão fácil. A coordenadora do curso de capacitação em RH da FGV (Fundação Getulio Vargas) e mentora de carreiras Anna Cherubina diz que são muitos os desafios em um mercado que está em profunda transformação.
Para a pesquisadora Ana Amélia Camarano, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a força de trabalho madura, que inclui quem tem de 50 a 64 anos, é que vai ser primeiramente afetada pela reforma.
Ela considera a idade mínima ainda menos preocupante ante o tempo de contribuição proposto, que subirá de no mínimo 15 anos para 20.
O que mais afeta a empregabilidade é a qualificação, a capacidade de a pessoa acompanhar as mudanças tecnológicas. Depois, vem a saúde. Um funcionário de saúde frágil falta muito e sofre mais com questões de mobilidade, por exemplo.
Segundo a pesquisadora, vem caindo o número de trabalhadores na faixa dos 60 a 64 anos. Em 1992, 400 mil eram ‘nem nem’, pois não trabalhavam, mas também não estavam aposentados. No ano passado, esse número bateu 2 milhões. “É uma população muito fragilizada. É necessário ter uma política de emprego”, afirma.
MUDANÇAS
A proposta da gestão Jair Bolsonaro (PSL) é acabar com a aposentadoria por tempo de contribuição e permitir somente o benefício após os 60 anos. Na PEC (proposta de emenda à Constituição) enviada em 20 de fevereiro, o governo propõe idade mínima de 62 anos, para mulheres, e 65, para homens, a partir de 2031.
Na quinta-feira (28), o presidente admitiu a possibilidade de reduzir a idade das seguradas para 60. Essa idade mínima não será aplicada imediatamente. Ela começa em 61 anos, para os homens, e 56, para mulheres. Os trabalhadores mais novos terão outras duas opções para escapar dessa idade.
PREPARE-SE
Para quem está nessa etapa de pré-aposentadoria e pensa na possibilidade de trabalhar mais do que o planejado inicialmente, a consultora Anna Cherubina recomenda reorganização.
“Uma coisa super importante é se atualizar sempre e tentar enxergar possibilidades que tenham a ver com o perfil do trabalhador, que sejam prazerosas.”
Anna diz que os cuidados com a saúde são essenciais.
“A experiência é muito importante para as empresas, mas a vitalidade fará muita diferença, pois ninguém vai contratar alguém doente.”
REAÇÕES
As centrais sindicais já preparam reação à apresentação da proposta de reforma. Além de uma agenda unificada de protestos, CUT e Força Sindical devem começar um corpo a corpo com parlamentares para cobrar alterações, especialmente nas novas regras de acesso e em benefício como aposentadoria rural e BPC.
Outras instituições, como a OAB-SP e o Ieprev (Instituto de Estudos Previdenciários), preparam emendas alterando pontos do projeto. As propostas devem ser apresentadas a deputados. Federações que representam servidores do Judiciário também preparam uma investida contra a PEC ainda na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), a primeira pela qual passará a proposta.