O tuíte do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), com cenas bizarras gravadas durante o Carnaval marca o ponto máximo de uma tendência da política nacional. Sob muitos aspectos, há alguns anos, o país vive um período que pode ser chamado de “era da baixaria”.
Política no Brasil nunca foi sinônimo de polidez. Ao contrário, as disputas eleitorais caracterizam-se, em grande parte, por radicalismo e falta de respeito pelos adversários. Mas Bolsonaro arrastou para dentro do Palácio do Planalto o baixo nível dos debates travados nas ruas e nas campanhas.
A falta de modos dos brasileiros ficou evidente durante a Copa do Mundo de 2014. Na época, as torcidas sacudiram estádios com gritos de “Dilma, vai tomar no c*”, em manifestações contra a então presidente Dilma Rousseff.
Ela também foi vítima de desrespeito nos adesivos para tampas de tanques de gasolina em que aparecia de pernas abertas. No ano passado, ficou famosa a imagem de um cachorro urinando em um cartaz de Bolsonaro, como se estivesse atingindo a boca do então candidato ao Planalto.
Agora, no Carnaval, blocos de foliões em todo o país entoaram de novo o “vai tomar no c*”, desta vez direcionado para o presidente. Atacado pelo público, como se fizesse pirraça, Bolsonaro divulgou o vídeo com cenas pornográficas.
Ao fazer a postagem escatológica, o presidente se mistura com o que há de mais tosco no comportamento político dos brasileiros. Em vez de elevar o nível do debate, ele reforça a esculhambação das ruas.
O gesto de Bolsonaro contraria princípios óbvios da educação. Seguido por pessoas de todas as idades, ele não se preocupou com o fato de que as imagens grotescas seriam acessadas por adolescentes e crianças. Se a intenção era denunciar aberrações que ocorrem durante o Carnaval, certamente poderia buscar as vias institucionais, como a polícia ou o Ministério Público.
Falta educação
É difícil imaginar ainda como esse tipo de atitude poderia ajudar o governo. A começar pela reforma da Previdência, missão mais complicada assumida por Bolsonaro desde a campanha eleitoral. Quando gasta seu poder de influência junto aos brasileiros para propagar obscenidades, ele perde a chance de se concentrar no debate necessário para convencer os congressistas da importância de se cortar privilégios para equilibrar as contas públicas.
Fonte: Metrópoles