Enquanto o avanço do novo coronavírus parece seguir incontrolável mundo afora, uma corrida contra o tempo iniciou entre os especialistas em doenças virais na procura de soluções contra a doença que já vitimou mais de 8 mil pessoas desde dezembro de 2019, de acordo com balanço divulgado pela Organização Mundial de Saúde nessa quinta-feira (19). Uma das luzes no fim do túnel aponta para os efeitos positivos da hidroxicloroquina.
Bastante utilizado contra a malária no Amazonas, o remédio é uma das três principais referências nos laboratórios governamentais dos países mais atingidos pelo vírus como a Itália, França, o Reino Unido, Estados Unidos e China. Na quarta-feira (18), o presidente dos EUA, Donald Trump, reforçou o pedido para que a agência federal do país acelere os resultados das pesquisas que envolvem o medicamento.
O remédio é bastante conhecido entre os moradores da Amazônia, já que atua contra os efeitos devastadores da malária, doença transmitida pelo mosquito Anopheles, ou, simplesmente, mosquito-prego. Comum em florestas tropicais, a doença atinge o sistema imunológico do corpo, desencadeando febre, dores intensas e obstrução dos fluxos respiratórios. Sintomas semelhantes àqueles encontrados entre pacientes diagnosticados com o novo coronavírus.
O cenário de complicações na saúde por conta da malária, que atinge principalmente populações ribeirinhas e de áreas das periferias dos grandes centros urbanos, tornou o sistema de saúde do Amazonas referência internacional quando o assunto é prevenção e tratamento da doença, por meio da hidroxicloroquina. É justamente esse medicamento que, agora, é considerado como um dos caminhos possíveis na busca pela cura, ou, tratamento contra a Covid-19. De acordo com A FVS-AM, o estoque disponível do medicamento abrange cerca de 7.500 casos, o suficiente para o Amazonas.
Ainda assim, apesar da velocidade com que se têm alcançado vitórias no caminho rumo a uma vacina ou tratamento eficaz, é quase unânime entre a comunidade científica que o remédio contra o vírus depende de estudos e testes mais avançados e, principalmente, conduzidos com calma.
Nesta quinta-feira (19), durante coletiva de imprensa realizada online pelas redes sociais do Governo do Amazonas, para evitar aglomeração, o governador Wilson Lima (PSC) esclareceu que a quantidade que o estado possui do medicamento é dedicada somente para tratamentos envolvendo a malária, e não recomendou a automedicação, caso a pessoa com suspeitas tenha acesso ao remédio.
“O estado do Amazonas é referência mundial no tratamento da malária, e aqui já tivemos avanços significativos. Nos deixa muito feliz [que o remédio usado contra a malária poderá ser usado contra a Covid-19], mas, nós precisamos de autorização da OMS, Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) pra comprovar a efetividade. Senão corre o risco de acontecer o que aconteceu na Itália sobre o ibuprofeno”, disse.
A OMS havia recomendado que o ibuprofeno não fosse utilizado contra a Covid-19, mas na quarta-feira (17), o órgão mundial de saúde recuou e apoiou tratamentos com o medicamento.
A diretora-presidente da Fundação Vigilância e Saúde do Amazonas (FVS-AM), Rosymere Pinto, acrescentou, durante a coletiva ao lado do governador, que o Amazonas possui estoque suficiente de hidroxicloroquina para suprir as necessidades de tratamento contra a malária, e que ainda não é recomendado o uso do medicamento, que deve passar pelo crivo das organizações de saúde antes de serem aplicadas como possíveis soluções ao tratamento da Covid-19.
“Vários estudos apontam essa possibilidade [ tratamento feito com base em hidroxicloroquina]. Mas, trata-se de estudos, pesquisas. Ainda não temos protocolo de atendimento pela Organização Mundial de Saúde.
A especialista está na linha de frente das políticas de saúde adotadas no estado contra o coronavírus e conduz uma equipe com mais de 30 profissionais diretamente. Ela alertou que o medicamento, ainda sem autorização da OMS contra casos envolvendo Covid-19, se usado indiscriminadamente, poderá levar a um cenário de complicação generalizada, já que o estado está inserido em uma área com forte foco de malária.
“Lembrando, também, que tem outra preocupação. Já que estamos em uma área malarígena, nós temos que usar esses medicamentos de acordo com a prescrição médica, pra evitar o desenvolvimento de resistência. Porque são medicamentos fundamentais para o controle de uma doença que é grave pra nós, e que nos afeta, que é a malária. Se utilizarmos de uma maneira descontrolada, certamente corremos o risco de perder esse medicamento importante para o controle da malária”, finalizou.
Enquanto o mundo segue esperançoso, as pesquisas continuam avançando no caminho de uma solução. O otimismo é compartilhado pelo antropólogo forense Francisco Machado. O manauara está há seis dias isolado em seu apartamento no sul da Espanha. “Aqui na Espanha eles estão realizando testes com este medicamento, mas ainda é só teste, mas vejo como uma esperança. Por aqui estamos isolados, confinados, e quem sai à rua é abordado pela polícia”. O país já contabiliza mais de 400 mortes nesta semana.
Neste momento, de acordo com o Le Monde, jornal francês, a China realiza cerca de vinte pesquisas que exploram a eficácia deste medicamento ou de um seu semelhante, a cloroquina, em pacientes infetados com o SARS-CoV-2, uma das variações da Covid-19. Mesmo assim, os resultados já parecem animadores, de tal forma que, tanto na China como no Irã, Coréia do Sul e Arábia Saudita, essa solução já faz parte dos protocolos terapêuticos. Na Europa, França já começa a ter quem peça que estas substâncias sejam aplicadas da mesma forma e no Reino Unido o governo adicionou recentemente a cloroquina e a hidroxicloroquina (bem como vários outros antivirais) à lista de medicamentos de exportação proibida.
*Com informações do site Acrítica.